O
Evangelho é espalhado e pregado por testemunhas. Essas testemunhas
constituem-se de indivíduos que vivem em uma cultura e em um tempo,
em uma época. Portanto a maior parte de seu modo de ser é
semelhante e portanto não muito diferente das pessoas do lugar e das
exatas condições em que nascera, crescera e se
desenvolveram.
Desse modo é até estranho como as pessoas
ávidas por uma igreja que seja do seu jeito, música, liturgia,
pregações e pregadores, não atinem que se o grande apóstolo Paulo
viesse em qualquer de nossas igrejas hoje, em plenos séculos XX e
XXI não gostaria das mesmas e os crentes certamente muito pouco
dele.
O próprio Senhor Jesus, homem perfeito e Deus,
nascido e crescido na Palestina, se já era estranho às pessoas e
aos seus contemporâneos imagine a nós crentes do século XXI,
urbanos, descolados, etc?
É também verdade que em todas
as épocas anteriores, os crentes sempre adotaram um perfil que os
distinguisse visualmente das demais pessoas consideradas
apropriadamente como não crentes, não da igreja, pertencentes a
outro grupos, a outras instituições. Soldados sempre em qualquer
época sempre usaram uniformes, indumentárias próprias assim como
religiosos e representantes religiosos de religiões antecessoras do
próprio cristianismo. Ou seja sempre houve e há por circunstâncias
mais que óbvias, um perfil visual, um esteriótipo do que e de quem
seja visual e comportamentalmente um “crente”.
Não é
esse exatamente o problema. O problema é quando o desejo de se
enturmar, de se misturar, de mostrar as demais pessoas que se não é
tão diferente em coisas secundárias que não são virtudes por si
mesmas se torna algo incrivelmente impositivo. E não importa se o
mesmo fenômeno ou comportamento já ocorreu de outra forma,
alimentando um perfil mais “conservador”.
Esse ou parece ser
exatamente o fenômeno mais recente: um esforço ativo em se afastar
do perfil mais tradicional e se mostrar eternamente e pateticamente
jovem através das roupas do corte de cabelo, da barba e do movimento
do corpo diante de uma plateia. O tom coloquial, quase o dever de
arrancar risos e dar exemplos simplórios ( o que é diferente de
exemplos simples e mais facilmente compreensíveis ) demonstrando a
intenção ativa de ser aceito e aplaudido.
Há situações
terrivelmente patéticas como a de traduzir e transplantar para
espaços brasileiros, expressões como “Quem está comigo?” e
outras. Mas alguém pode dizer que o apelo feito para se aceitar
Jesus é algo também importado, uma invenção particularmente de
pregadores norte americanos, originário nos EUA. Mas convenhamos não
é a mesma coisa. Temos em português frases mais claras como “Estão
entendendo?”, “Vocês compreendem?”, “Entendem o que estou
dizendo?” usadas naturalmente e muito melhor entendidas.
Os
gestos imitados dos cantores e cantoras nos cultos contemporâneos,
repetidos com pouca ou suspeita naturalidade, dão caráter suspeito
à espiritualidade aparente. Mas cantores e cantoras, pregadores e
pregadoras no passado também não apresentavam algum grau de
imitação ou de reprodução de comportamentos? Na verdade sim.
Jimmy Swaggart, primo de Jerry Lee. Leews bem como se contemporâneo
Elvis Presley ( todos estariam com a mesma idade hoje com diferença
de poucos meses de uns para os outros ) apresenta os mesmos gestos e
maneirismos de sua geração, seja falando, cantando, andando,
tocando, etc. No caso deles há uma história, um conjunto de coisas
e comportamentos naturalmente surgidos e cultivados entre os seus
iguais. É assim no mundo inteiro. É desse modo exatamente que
sabemos prontamente quando alguém é carioca, gaúcho, mineiro,
nordestino, etc.
Não é o caso do que se vê hoje, de
repente o sujeito raspa a cabeça, deixa crescer apenas um cavanhaque
sem bigode e parece um muçulmano, ou um lenhador canadense, seus
braços com bíceps fortes e as vezes tatuado ficam a mostra, rígidos
mesmo que segurem uma leve folha de papel. Calças apertadas nas
canelas e coxas e largas e caídas nas nádegas. Mais recentemente
uma camisa que se assemelha a uma túnica e que se estende até as
virilhas, tornando a aparência meio andrógena. Se antes as mulheres
na igreja eram consideradas atrevidas e com sensualidade imprópria
ao culto e à “pureza feminina” agora é o grupo de homens que
parece exagerar na sua visibilidade como se um movimento de
modernismo masculino os transformassem em indivíduos tão produto da
moda e das frívolas imposições sociais e culturais quanto os que
ainda ostensivamente fazem parte do mundo.
Mas isso em si
é algum “pecado” como era injusta e erroneamente imposto em
passado não muito distante, particularmente pelos pentecostais
tradicionais que arvoravam para si uma santidade particular, com seus
cabelos cortados baixo, sem barbas e raramente e as vezes somente
algum bigode, camisas de manga comprida, sapatos sociais, gravata e
terno. Se antes o objetivo era ser diferente para ser “santo” (
separado ) agora o movimento é oposto: não ser “diferente” para
não ser excluído, atrasado, ignorante, obtuso, de mente
fechada.
Pode-se ignorar o fenômeno presente ou atacá-lo,
os dois extremos não trazem nenhuma construção ou benefício ou se
debruçar sobre ele e questionar a sua motivação e ganho ( se os há
) ou perdas ( se as há igualmente ). O fato é que algo esteja
acontecendo e a um olhar superficial, dada a sua leviandade, é pouco
provável que esteja ocorrendo algum ganho real. Eu particularmente
depois de mais de quatro décadas convivendo com todas as
transformações e sendo testemunha objetiva de muitas delas sem
entrar em controvérsias, debates e ataques ativos a nenhum de seus
promotores, procurando atentar para o que sempre é mais importante,
observo com estranhamento tentando ser justo e avaliar sem exageros o
comportamento de parte da igreja hoje, entre jovens e jovens
adultos.
Se tais comportamentos são efêmeros e por
serem exatamente isso logo serão pateticamente abandonados e
substituídos e não se fará desse comportamento uma avaliação
como não se fez em tempo do excesso de rigidez de algumas
denominações em passado nem tão distante?
A tendência
prevalente entre uma rigidez estúpida e uma volatilidade inútil
mais uma vez se imporá à Igreja?
Fica a pergunta!
Por Helvécio S.Pereira*
*Graduando em teologia e pedagogo
Por Helvécio S.Pereira*
*Graduando em teologia e pedagogo