Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus.
Atos 5:39O texto acima é apenas parte de uma afirmação feita num episódio conturbado após a ressureição e ascensão de Jesus aos ceús, quando os seus discípulos insistiram em pregar acerca do Senhor aos habitantes de Israel. Nem todos criam que Jesus fosse tudo o que disse de si mesmo e alguns mais sábios recomendavam em aguardar os acontecimentos. A justificativa era que se todos os acontecimentos eram decretados por Deus, impedir os novos acontecimentos, incluídas aí a pregação sobre Jesus, a própria pregação do evangelho seria lutar diretamente contra Deus. O texto na íntegra está reproduzido abaixo:
26 Então foi o capitão com os servidores, e os trouxe, não com violência (porque temiam ser apedrejados pelo povo).
27 E, trazendo-os, os apresentaram ao conselho. E o sumo sacerdote os interrogou,
28 Dizendo: Não vos admoestamos nós expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.
29 Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.
30 O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.
31 Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
32 E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem.
33 E, ouvindo eles isto, se enfureciam, e deliberaram matá-los.
34 Mas, levantando-se no conselho um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que por um pouco levassem para fora os apóstolos;
35 E disse-lhes: Homens israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens,
36 Porque antes destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém; a este se ajuntou o número de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada.
37 Depois deste levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos.
38 E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará,
39 Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus.
40 E concordaram com ele. E, chamando os apóstolos, e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus, e os deixaram ir.
As idéias expressas no verso 39 ( cap 5 do livro de Atos no NT ) são duas idéias importantes:
A primeira é que a obra ( verso 5:38 ) sendo de Deus a impossibilidade de desfazê-la é certa por parte de simples homens, idéia óbvia e consensual entre a grande maioria de cristãos. A segunda é a de que embora impossível deter o braço de Deus, homens podem ter uma vontade livre, uma ação em combatê-Lo.
A segunda idéia, diferente da primeira, já não é consenso entre cristãos e principalmente entre crentes evangélicos. Esses se dividem entre os que crêem que todas as ações humanas são ações únicas de Deus e os que crêem que homens, portanto cada um dos bilhões de indivíduos da humanidade constroem a sua história aproximando-se de Deus ou resistindo-o e colaborando para sua própria perdição. Qual é finalmente o modelo e a posição real da Palavra de Deus sobre o assunto?
Para sanar essa dúvida e respodendê-la baseada na Bíblia unicamente devemos recorrer a textos e versículos pouco ou nada lembrados pelos que defendem a primeira posição. Vejamos o que se encontra registrado em Jeremias 32, mais exatamente no verso 35.
E edificaram os altos de Baal, que estão no Vale do Filho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem veio ao meu coração, que fizessem tal abominação, para fazerem pecar a Judá.
Jeremias 32:35Novamente o contexto, o registro do fato de forma a construirmos uma idéia mais abrangente possível dos fatos a ele relacionados se faz importante.
Jeremias 32
1 A palavra que veio a Jeremias da parte do SENHOR, no ano décimo de Zedequias, rei de Judá, o qual foi o décimo oitavo de Nabucodonosor.
2 Ora, nesse tempo o exército do rei de babilônia cercava Jerusalém; e Jeremias, o profeta, estava encerrado no pátio da guarda que estava na casa do rei de Judá;
3 Porque Zedequias, rei de Judá, o tinha encerrado, dizendo: Por que profetizas tu, dizendo: Assim diz o SENHOR: Eis que entrego esta cidade na mão do rei de babilônia, e ele a tomará;
4 E Zedequias, rei de Judá, não escapará das mãos dos caldeus; mas certamente será entregue na mão do rei de babilônia, e com ele falará boca a boca, e os seus olhos verão os dele;
5 E ele levará Zedequias para babilônia, e ali estará, até que eu o visite, diz o SENHOR e, ainda que pelejeis contra os caldeus, não ganhareis?
6 Disse, pois, Jeremias: Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
7 Eis que Hanameel, filho de Salum, teu tio, virá a ti dizendo: Compra para ti a minha herdade que está em Anatote, pois tens o direito de resgate para comprá-la.
8 Veio, pois, a mim Hanameel, filho de meu tio, segundo a palavra do SENHOR, ao pátio da guarda, e me disse: Compra agora a minha herdade que está em Anatote, na terra de Benjamim; porque teu é o direito de herança, e tens o resgate; compra-a para ti. Então entendi que isto era a palavra do SENHOR.
9 Comprei, pois, a herdade de Hanameel, filho de meu tio, a qual está em Anatote; e pesei-lhe o dinheiro, dezessete siclos de prata.
10 E assinei a escritura, e selei-a, e fiz confirmar por testemunhas; e pesei-lhe o dinheiro numa balança.
11 E tomei a escritura da compra, selada segundo a lei e os estatutos, e a cópia aberta.
12 E dei a escritura da compra a Baruque, filho de Nerias, filho de Maaséias, na presença de Hanameel, filho de meu tio e na presença das testemunhas, que subscreveram a escritura da compra, e na presença de todos os judeus que se assentavam no pátio da guarda.
13 E dei ordem a Baruque, na presença deles, dizendo:
14 Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Toma estas escrituras, este auto de compra, tanto a selada, como a aberta, e coloca-as num vaso de barro, para que se possam conservar muitos dias.
15 Porque assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Ainda se comprarão casas, e campos, e vinhas nesta terra.
16 E depois que dei a escritura da compra a Baruque, filho de Nerias, orei ao SENHOR, dizendo:
17 Ah Senhor DEUS! Eis que tu fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido; nada há que te seja demasiado difícil;
18 Tu que usas de benignidade com milhares, e retribuis a maldade dos pais ao seio dos filhos depois deles; o grande, o poderoso Deus cujo nome é o SENHOR dos Exércitos;
Pela parte do texto acima, entendemos com certeza, que o profeta que fala no verso 39 é Jeremias, temos a data, as circunstâncias descritas em detalhes, e concordamos que o verso 39 é portanto a inequívoca voz de Deus e não a opinião de alguma outra personagem bíblica. Além do mais, nos versos de 1 a 18, temos reiterados os atributos relativos a Soberania de Deus, como todos nós concordemente entendemos e cremos. Isso faz com que a declaração do verso 35:39 tenha por si toda a autoridade doutrinária sobre o assunto em questão.
Todas as ações descritas até o verso18 e posteriores no capítulo 39 de Jeremias são de coisas que Deus ordenou e foram acontecidas e coisas obedecidas a risca pelo profeta. As primeiras eram tão definitivas que independiam da vontade das pessoas, dos homens envolvidos, as outras da obediência do profeta em fazê-las sob as ordens e orientações específicas de Deus. As segundas, as realizadas pelo profeta Jeremias dependiam, subtendem-se, dependia da compreensão e da natural obediência de quem de a muito tinha aprendido a ter um relacionamento íntimo como seu Deus. Ficam claras no texto bíblico pelo menos dois tipos de ações levadas a efeito por Deus no seu relacionamento com os homens com fins específicos. Difícil ou decididamente impossível para algum leitor negar a realidade da ingerência de Deus na vida dos homens, seja individualmente, seja a nível de governo e política nacionais. Apreende-se facilmente que o Deus bíblico não é um Deus alheio e distante, passivo e desinteressado nas ações humanas e suas repercussões. Ademais em se tratando especificamente do povo de Israel tudo pe amarrado em um propósito maior, nada é solto no ar, desconexado de uma lógica divina. Facilmente é um episódio a favor dos que defendem um radical determinismo bíblico. Ou seja Deus decreta TODOS os acontecimentos da vida, em TODOS os momentos e realtivos a TODAS as coisas, boas ou más, menos importantes, sem importância ou relevância alguma e decididamente importantes.
O verso 39 é uma clara e chocante excessão quando o próprio Deus, criador de todas as coisas, e sem dúvida alguma Todo Soberano, declara pessoalmente: Jer 32:35
E edificaram os altos de Baal, que estão no Vale do Filho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem veio ao meu coração, que fizessem tal abominação, para fazerem pecar a Judá.
Segundo os deterministas todas as coisas boas e todas as cosias terríveis, as mais terríveis que vemos ao estudarmos as histórias nacionais, regionais, familiares, e as que vemos nos noticiários todos os dias são atos de Deus. Todas as declarações textuais de teólogos que postulam essa posição são claras e enfáticas. A menina que teve o frasco de soro trocado por um de vaselina, por distração da enfermeira, são explicadas por eles, sem nenhum assombro, sem a menos fingida tristeza,que são decretos de Deus. E quando apertados confrontados com dezenas e dezenas de fatos reais saem com uma frase chave: não entendemos mas é decreto de Deus. É a saída definitiva do assunto segundo eles. Mas não é isso que diz a Palavra de Deus, não importa o que Pink e outros teólogos digam. É a Bíblia falando por si mesmo. Deus diz sobre os pecados específicos de seu povo relacionados pelo próprio Deus, os altos, o sacrifício de passarem os filhos e filhas pelo fogo, e vê-los queimados vivos nos braços da estátua de metal de Moloque: NUNCA LHES ORDENEI, NEM VEIO AO MEU CORAÇÃO.
Pois bem, se em toda a terra, uma única pedra fosse imune a força da gravidade e flutuasse, o que diríamos? Certamente teríamos que admitir que em toda a natureza tal pedra, de tal nome, não caia e nem permanecia estável sobre nenhuma superfície. Um reconhecimento simples mas factual. Não seria também correto imaginar que haveria muitas outras rochas desse tipo em toda a terra, no subsolo, nas montanhas, nos vales, no mar, etc? Não seria pelo menos razoável?
Pois bem, diante de toda as ações caóticas no mundo, irreconciliáveis com a natureza divina descrita na Bíblia, não podemos em nome de uma doutrina particular, que convenhamos não acrescenta nada, absolutamente nada, ao que já se havia feito compreensível, por aqueles que realmente se debruçaram sobre os relatos bíblicos. Tudo sob uma falsa e simplista premissa de defesa da Soberania Divina ( destacada aqui com letras maiúsculas por ser assim sublinhada doutrináriamente ), cuja antecedência história foi de fato, uma resposta errônea dada a uma pergunta despropositada ( por que os homens não aceitariam a mensagem do evangelho ), é construída uma doutrina, uma igreja e uma mensagem do evangelho particular, cuja diferença tênue ( aparentemente ) tem enorme consequência na pregação e no desenvolvimento do evangelho nos séculos seguintes chegando essa diferença até aos dias de hoje.
Isto porque a grande maioria dos defensores dessa posição rejeitam por tabela uma série de compreensões que não se harmonizariam a compreensão cincocentenária. Se enganam aqueles que pensam que ao aceitarem apenas o discurso em defesa da soberania de Deus. Opondo-se francamente a outras igrejas, embora reconhecendo o vínculo salvívico, mas sempre que podendo duvidando dele em relação aos outros, se sentirão livres para aceitarem ou crerem em outras práticas feitas em obediência e possibilitadas pela mesma Palavra de Deus, como profecias, falar em outras línguas, cura divina, prosperidade proporcionada por Deus e finalmente a morte de Jesus por TODOS os homens. Fato é que aceitando o primeiro erro, o indivíduo se torna inapto a refutar os demais. Ouve-se a voz de um defunto ilustre que explica a própria Palavra de Deus e os teólogos defensores de sua posição, repetidores incansáveis de seu discurso. De fato como em todo discurso, com margem de desvio da verdade, os versos e textos bíblicos já não falam mais por si mesmos, mas são usados ( apenas parte da Bíblia ) para dar autenticidade a lógica defendida, repetida vez após vez, como uma reza na maioria dos casos.
É um risco não ter um teólogo, reformador, líder, que traga tudo pronto para que eu creia, mas essa é a verdadeira conquista da Reforma e o sentido da obra deixada como herança pelos principais reformadores, incluídos o seguido por eles até hoje, eram homens que amavam a Deus mas com suas limitações humanas. Nos legaram entretanto algo sim de valor e consequências desejada e decretada sim por Deus: a livre interpretação das Escrituras, da Palavra de Deus.
Por Helvécio S. Pereira
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