O bom siso te guardará e a inteligência te conservará;
A internet, a web enfim, tem se revelado como uma importante possibilidade de comunicação e de expressão de idéias. São encontradas na rede todo o tipo de manifestação de idéias e de comportamento. Há informação de todo tipo, diversão, pornografia, verdades, mentiras, etc. A manifestação da fé igualmente é compartilhada como consequência natural, já que o ser humano, como ser social, compartilha aquilo que acredita ter ou crer. Todas as religiões praticamente, todas as crenças, tem em alguns aficionados pela tecnologia, uma ferramenta capaz de registrar e dar formato a recortes de sua crença, à utilização da nova ferramenta e mídia.
O cristão não ficaria de fora, apesar de historicamente, por medo, haver se mostrado mais resistente a novas tecnologias. Primeiramente foi o rádio, depois a televisão e por último a internet, sem contar a resistência na inclusão no culto de novos instrumentos musicais e novos ritmos. É até cômico o mais recente apelo do papa católico, Bento XVI, a seus padres dizendo “ por Deus tenham um blog.” O crente evangélico ávido por proclamar o evangelho ao maior número de perdidos é uma personagem , graças a Deus, bastante ágil na utilização das diferentes possibilidades da web tais como podcasts, blogs, orkuts, twiters, etc.
Contudo na minha ávida peregrinação pela web, por gosto, que virou parte de meu trabalho profissional, me deparo com diferentes e não poucos blogs e sites evangélicos, quwe não são poucos no sibespaço da web. Criados e sustentados, na maioria por leigos, membros de igrejas de diversas idades, na imensa maioria homens, de diferentes denominações, confissões, gostos estéticos, musicais, etc. Há também sites e blogs de instituições teológicas, ministros, pastores, missionários, bispos, apóstolos, alinhados em diferentes teologias. Há sites de notícias ligados ao segmento evangélico, de humor, de testemunhos, de evangelismo, de fofocas, de serviços como Bíblias on line, dicionários bíblicos, materiais diversos grátis, como cds, e-books, aplicativos como editores de sermão, Bíblias eletrônicas, etc. Há também uam variedade de sites de vendas de produtos criados e consumidos apenas pelo segmento de cristãos evangélicos, etc. As possibilidades são imensas e novas utilisasões surgem a cada dia.
Quero, entretanto me ater a algo que me incomoda: a maioria deles não é benéfica ao neófito na fé. Muitos são de efeito nefasto naquele que conheceu a pouco tempo a Palavra de Deus. De fato, muitos deles, o que neles aparecem ou o que é colocado, não tem o objetivo claro de trazer a edificação da fé de quem acessa o blog ou site. Muitas vezes não é por maldade, quero acreditar, mas pela avidez, presa de expressar indistintamente o que vai no coração de quem produz o texto, enfim a mensagem, a notícia. No trabalho, na família, há , na maioria das vezes a possibilidade de se consertar uma declaração feita, se desculpar, dizer de outra forma. Na web como na mídia de massa em geral não há volta. Semelhante a uma flecha lançada, um tiro dado, não se pode mudar o seu curso e haverá uma consequência irremediável.
Meu sogro morreu com mais de noventa anos. Deve ter conhecido ao Senhor Jesus com mais de setenta. anos de idade. Abraçou a fé no Senhor e o amou até o fim, ainda que nos últimos dois anos houvesse uma degeneração da sua mente e tenha ficado impossibilitado de fazer o que mais gostava: ler sua sua velha Bíblia. Quando o conheci, e alguns anos após casado com a sua filha, eu usava cabelo grande, como até hoje ( um dos genes que não herdei, pelo menos é o que parece até hoje é o gene da calvície ) e meu sogro algumas vezes me mostrava biblicamente, graças ao apóstolo Paulo, que eu deveria cortar os cabelos. De tanto ele falar, na verdade não falava tantas vezes, um dia como sou formado em Arte Plásticas, fiz curso de estilismo e tudo o mais, expliquei-lhe que a gravata é um acessório masculino de símbolo fálico ( o que é plenamente verdade ). Não satisfeito ainda lembrei-lhe da perfórmace daquele comediante brasileiro o “Cocada” em que a sua gravata levantava toda vez que passava uma moça bonita. Para arrematar ainda dei-lhe o golpe final, mostrando a diferença e o motivo de padres e pastores de igrejas históricas usarem antigamente o colarinho ou gola clerical. Obtive em minutos a vitória! meu sogro nunca mais falou do meu cabelo e nunca mais usou gravata. Até o fim de sua vida, enquanto pode decidir por si mesmo, usava terno e camisa social abotoada até em cima, sem gravata.
Foi uma vitória do discurso bem feito, incontestável, uma defesa de posição legítima, mas maldosa e egoista. A visão de uma congregação de homns de ternos xadrezes e cabelos cortados a máquina um não me agradavam como a visão dele de uma igreja de homens cabeludos e barbudos também lhe desagradava. Derrotei a igreja que simplesmente me incomodava e da qual estéticamente não me identificava. Se essa discussão fosse resultado de um concílio que impacto teria em todas as demais gerações não é? No momento parecia que valia a pena. Tratava-se de um grande serviço à causa da igreja de Jesus, enfim liberta da breguice, da caretice. Essa mesma maldade move postagens sinceras na web. São defesas justas, sinceras mas maldosas. Em nome de uma defesa de uma fé particular, que na maioria das vezes só discute detalhes. Em nome de uma defesa da igreja do Senhor, em nome de uma defesa de posição teológica particular, posta-se tudo, fala-se tudo. Um pastor amigo de um amigo meu e grande irmão em Cristo, possui um blog. Sempre li as postagens em seu blog e continuarei a lê-las. Inteligente, culto, preparado teológicamente, postou em seu blog, entre outras coisas um trecho de um programa de uma das igrejas neopentecostais veiculados na tv. O vídeo tem poucos minutos e registra a fala dos pastores desse ministério ou denominação, com uma pilha de garrafinhas , miniaturas das garrafas de água mineral, em que eles mesmos, tais pastores diziam, pedindo uma oferta, “ que uma única gota dessa água ungida, meu amigo irá curar a sua enfermidade, onde você estiver, etc,etc,” Ele teve o trabalho de assistir o programa, gravar e editar o vídeo, colocá-lo no you tube e depois postá-lo em seu blog.
A crítica feita por esse pastor e minsitro evangélico é tão legítima “teológicamente” como a minha feita ao meu sogro sobre a gravata. Porém não contribui em absolutamente nada para a fé de alguém que esteja desesperado e de repente ouve que Deus o ama e poderá curá-lo. Não é em nome de Maria, em nome de José de João ou de alguma Nossa Senhora não sei das quantas. Posso discordar do método, das garrafinhas, mas se o Senhor Jesus quizer usar a tal gota da garrafinha, eu não tenho nada com isso. Não é justo que através da minha crítica a pessoa tenha uma atitude de não-fé: " é mentira Deus não irá curá-lo (a) através dessa aguinha ungida...você está perdida...desista não há nehuma chance para você."
Se você prestar atenção aos diversos relatos bíblicos, não havia precedentes para os sete mergulhos do general Naamã no rio Jordão, nem para o óleo da botija da viuva de Serápta, nem para o machado que flutuou nas águas, nem para os lenços que entrava em contato com o corpo do apóstolo Paulo. Para não nos gloriarmos Deus usa quem Ele quer e opera confome a sua soberania. Isso não significa que todos os métodos sejam válidos mas que muitas vezes a linha é tênue e não devo apressar-me em julgar. Ponha-se na brecha e faça se possível algo melhor do que aquele a quem busca criticar. Que suas palavras e testemunhos sejam só para edificação, nunca para descrença, que sempre aponte para o amor e o poder ilimitado do Senhor na vida das pessoas.
Um irmão me acusou de pragmático. De certa forma acho que o sou. Quando me converti aos dezessete anos, não trabalhava, só estudava e quando decidi por Jesus ia todos os dias a igreja e visitava várias outras igrejas evangélicas. Não por curiosidade mas para aproveitar ao máximo e ouvir mais vezes a pregação da Palavra de Deus. Naquele tempo, por razões naturais, tínhamos nas igrejas apenas três cultos semanais. Sendo batista, as vezes cultos em outras igrejas como Quadrangular, Nazareno, Assembléia e tantas outras me incomodavam bastante e olhem que as diferenças se limitavam mais ao gosto musical, ao barulho no momento das orações e ao mal humor do pregador. Ah! havia as roupas e os cortes de cabelo...
O que relato a seguir não é um confronto ao que esse amado pastor postou em seu blog. é que como já disse e fui acusado por um irmão sou pragmático. Ao invés de ficar em casa sendo pastor ( deveria estar fazendo outra coisa, pregando em algum lugar, na praça, na rua, no monte, sei lá...) e vendo o programa dos outros deveria , sei lá fazer o que fiz. Um dia com tempo fui a sede dessa mesma igreja em Belo Horizonte. Chegando lá encontrei um irmãozinho que conheci a vinte anos atrás. O culto foi bem organizado, os cânticos, as orações, a mensagem inteiramente bíblica. Sem exageros, conduzido com sabedoria pelo bispo responsável,etc. Ao final do culto encontrei o tal irmão de tantos anos atrás. Disse que passou por situações difíceis, ficou distante do Senhor mas que agora voltava. Faltando um dente ou dois, com um pouco de bafo de bebida, ligeiramente mal arrumado...Algum tempo depois, uma mês ou mais, voltei a essa mesma igreja, reencontrei o mesmo irmão, mais animado, disse-me que estaria indo ao monte junto com os pastores e demais membros. Mais um tempo e uma outra vez estive lá, e ele participava de um grupo de preparação para novos obreiros. Mais recentemente estive lá, queria vê-lo, procurei-o com o olhar em meio a multidão. Vi-o com a tradicional calça azul marinho, camisa social azul, gravata azul marinho e craxá de obreiro. Alegrei-me. Esse irmão atravessou uma separação, um divórcio, a distância da única filha que agora está formada em um curso superior, casada e firme em uma igreja...a sua própria frieza na fé e acolhido por essa igreja ajuda outras pessoas a conhecerem a Cristo. Tenho eu o direito e a legitimidade de destruir tudo isso? Em nome de quê?
Mas o pior, ou o melhor, dependendo como se vê, relato agora. Esse irmão a três décadas atrás ou mais, era mendigo. Um dia ouviu em uma rádio um programa do mais analfabeto pregador que já tive notícia. Já falecido, chamava-se Geraldo de Carvalho. Inspirado no ministério da Igreja Deus é Amor, alugava horários em rádios AMs e se intitulava “Missionário Geraldo de Carvalho”. A sua pregação tinha de tudo de ruim e errado. Do português ruim a pregação estapafúrdia. O salão alugado para as suas reuniões ( uma vez passei na porta ) era uma coberta , que parecia ter sido uma oficina mecânica, ou algo semelhante, com um piso irregular, com os bancos dentro. Mas foi essa mensagem no rádio e as reuniões dirigidas por ele e a suas orações, que tiraram aquele irmão da sarjeta. É por esse motivo que não desdenho de ninguém que tenha a coragem de pregar o evangelho, com pouco ou muito preparo, com tal ou tal estratégia. Assumo o meu pragmatismo em prol do evangelho, e só faço uma crítica àqueles que por naturais oportunidades puderam se preparar culturalmente melhor, que julguem que alguem esteja errando, só há uma atitude recomendável: que façam melhor, que abençoem mais pessoas, que alcancem mais pessoas. Nem sempre é a bondade que nos move nem mesmo quando temos atitudes e interesses aparentemente cristãos.
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