Quando estudamos linguística ou particularmente uma formação para professor de línguas ( portuguesa, francesa, etc.) aprendemos que o sentido da palavra dita está no ouvinte e não em quem diz a palavra. Desse modo, um discurso claro e plenamente inteligível para mim e para os meus iguais, pode ser inteiramente inacessível para os demais ouvintes, considerando-se o contexto educacional e cultural dos mesmos.
Há muitos anos ouvi, ou li, ou ambos não me lembro exatamente, fazem mais de trinta anos...uma história de que missionários em suas andanças pela África, ou Oceania, não me lembro também, após pregarem, para muitas tribos e nenhuma delas serem tocadas pela mensagem do evangelho, da história sobre Jesus, de repente tiveram enorme sucesso em uma determinada tribo. A adesão e a receptividade foram tão grandes que não tiveram tempo esses missionários de compreender a razão por que esses aceitaram e outros não. Se Calvino estivesse lá hem? Brincadeiras a parte, mas foi essa a grande questão e o grande reformador se propôs em responder na sua época. A resposta ,descoberta posteriormente, era bem mais simples que a encontrada pelo reformador. Os valores daquele povo, daquela tribo eram, angularmente opostas aos valores dos estrangeiros missionários. Eles sempre pediam para contar-lhes repetidas vezes toda a história de Jesus, até a sua morte. A resposta é que o valor daquele povo era a inteligência e paciência na traição. Era por Judas que se interessavam e não por Jesus.
A imagem cultural de Jesus no Brasil é de um homem piedoso e do passado, que deve ser relembrado. Mas já foi pior, antes era do bebê Jesus, como símbolo da inocência e do cuidado, que a Ele deveria ser dado. Nos dois exemplos nada de um Jesus que saiba e possa, efetivamente, guiar o ser humano no mundo moderno. Um Jesus bebê não entende de casamento, de negócios, de subir na vida, de viagens, de contas bancárias, de criação de filhos, de quando comprar ou não o carro, ter ou não ter filhos, dos assuntos discutíveis na faculdade, etc. Um Cristo morimbundo na cruz, ou deposto dela, ainda que ressucitado parece mais apressado para fugir desse mundo que o rejeitou e banil.
Os choques culturais entre liturgias básicas nas igrejas, canções e hinos entoados, a praxis enfim, sempre serão pontos bastantes sucetíveis de maior ou menor polêmica. Creio entretanto, é apenas opinião, para compreendermos melhor a quantas anda o mover de Deus, devemos estar ligeiramente acima desses "detalhes". O Brasil hoje está pronto para a idéia de um Deus presente, atuante, que interfere com capacidade de guiar o indivíduo em qualquer área da vida moderna. Trata-se de um Deus competente e não incompetente com a vida moderna. As pessoas entendem que podem falar com Deus acerca de qualquer assunto, que Ele é capaz de socorrê-las e guiá-las. Antes era onipotente mas distantes. Entendia e podia tudo, fora da esfera de nossa vida diária. Essa idéia não deve "contaminar" por assim dizer os menos doutos, os mais pobres, a ralé, os desprezados, os inconvenientes para o ambiente eclésial, mas os mais cultos, os mais refinados, os que tenham algum poder na sociedade, os legisladores e finalmente os governantes. Deus é capaz e plenamente capaz de guiar aqueles que são capazes de lidar com as questões desse mundo, porque tiveram educação, família, berço, saúde intelectual, esses também devem aprender a depender de um Deus maior que eles próprios.
Essa foi a grande mudança cultural. Não mais o "andar de baixo" e o "andar de cima" instituido na teologia de São Tomaz de Aquino. "God is Able"! como na letra de uma linda canção gospel americana ( aliás mais de uma). Não sou eu que cuido de Deus, mas "Deus cuida de mim" na letra e melodia de uma canção brasileira de Kleber Lucas.
Alguns irmãos queridos, acham, pensam,ou podem vir a pensar sinceramente, que sou pouco ortodoxo e com grande teor de desleixo teológico. Eu realmente me alegro com uma conversão em que igreja for. Me alegro quando alguém diz: "estou lendo a Bíblia", aprendi a orar, clamei a Deus em tal situação... Tenho motivos reais para isso e em um próximo momento relatarei alguns testemunhos. Em uma igreja, um fato aparentemente patético em uma daquelas "campanhas", um pastor sai de dentro de uma reprodução gigante de Moby Dike, uma baleia mesmo... e o tema da "campanha" era a oração de Jonas. As pessoas foram incentivadas a orar com a mesma intensidade e/ou sinceridade de Jonas no interior do grande peixe. Alguém pode dizer...isso é patético. Esse é um desvairado teológico. Isso depõe contra as nossas igrejas, nossas liturgias seculares, nossos hinos de até quinhentos anos. Aliás "Castelo Forte" de Martinho Lutero é uma belíssima peça musical com uma mensagem poderosa e plenamente atual. Mas a mensagem da tal oração de Jonas feita em nome de Jesus coloca o ouvinte via instalação, work shop, seja o que for que se possa chamar isso, com uma real visão de Deus na vida do homem: um Deus que pode fazer, sabe o que fazer, e quer fazer algo para esse homem perdido, não só no que diz respeito a um destino eterno, mas perdido nesse mundo em meio as suas próprias mazelas. Enfim um ser humano duplamente perdido. Que não será resgatado via "palestras sobre", "seminários sobre", "acampamentos pagos para", "encontros em hotéis cinco estrelas para ", etc. Se esse homem, se essa mulher, que durante décadas ouviu falar do "menino Jesus", do "Jesus morto", do "Corpo de Cristo" ( aquele das procissões em semana santa !), agora sabe que Ele está vivo, que é Todo Poderoso, que está presente, que vem a seu encontro não importando quem essa pobre pessoa seja, que pode mudar toda a sua vida. E milhares tem sido mudadas. Mas tem gente que não entende, olha os detalhes, gasta tempo e se concentra em coisas como: ele está "curando no dia de sábado", ele "não anda conosco", não age e não pensa como o nosso seleto grupo de doutos teólogos. Você pode dizer; então está liberado o "ôba-ôba" ? Não de forma nenhuma. Mas quais as razões pelas quais eu rejeito certas coisas? Será um novo e velho controle de qualidade baseado na minha cultura, no meu nível intelectual? Há algum orgulho próprio envolvido? Pois a priori todo mundo que sabe o menos ( culturalmente ) do que eu está errado a não ser que repita minimamente o que eu digo e acredito. É essa a forma, infelizmente , como nos relacionamos. e isso não é novo. "Como pode ele ( Jesus) saber as sagradas letras sem ter estudado ( com alguém conhecido e respeitado dentro do judaísmo a época )"? Somos os mesmos e fazemos como nossos pais, nas canção histórica do seminarista Belchior ( o compositor e cantor ).
Finalmente eu acho, creio mesmo, que o Senhor é onipotente no cuidado de sua obra e Igreja. Mas as coisas mudaram nesse país e graças ao evangelho que atinge mais e mais pessoas modificando-lhes a mente. Nomes de santos e referências as várias "Marias" foram substituídas no linguajar diário por " Sangue de Jesus tem Poder!", "misericórdia Senhor", "Graças ao Senhor", "Glória Deus!" "Amém", etc. Você pode achar pouco ou nada. Será ?
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