Não compre qualquer disco gospel, não ouça qualquer canção e
não siga qualquer artista gospel!
Tradicionalmente, interpretando declaração do apóstolo Paulo e também do Senhor Jesus, denominações cristãs e mesmo igrejas não protestantes, não evangélicas, como católica romana ou ortodoxa, ou grupos de características singulares ou mesmo paraprotestantes sempre adotaram e adotam algum comportamento que torne aparentemente nítida a separação entre os valores cristãos e o mundo. Isso não resolve tudo e por si só não representa uma virtude, mas é sem dúvida algo louvável.
Não entram ou não servem como amostra ou exemplo os cristãos ou religiosos cristãos apenas nominais. Estes não se importam ou agem como hipócritas tendo comportamentos ambíguos ou que neguem objetivamente o que pareçam professar.
Essa separação entre a chamada cultura do mundo e o comportamento imaginado como santo, agradável a Deus, tem ao longo da história da igreja e das diversas experiências cristãs, sido expresso através de muitas coisas patéticas. Desde mulheres não podem cortar o seus cabelos, nem mesmos as pontas; homens não poderem ostentar barba ( em outros momentos usar barba, os homens adultos ); mulheres não tingir os seus cabelos; mulheres jamais usar joias, batons ou qualquer outro tipo de maquiagem; roupas justas para as mulheres; saias curtas; decotes; costas à mostra; aos homens proibição de shorts e bermudas; camisas de manga curta, camisetas; camisa aberta e sem ou com colarinho desabotoado; mulheres tecidos moles ou transparentes; homens sem meias; uso de chinelos ou sandálias; só de bonés, anéis, pulseiras, etc.
Enfim a lista de “proibições” e quantas vezes com exposição vexatória e pública dos que ocasionalmente infringiam uma desses admoestações, principalmente durante as temidas “ceias do Senhor” que em nada se parecem com as ceias da igreja primitiva em seu tempo, eram muitas vezes recorrentes. Suspensões, afastamento de serviços como evangelismo, pregação ou mesmo diaconato eram igualmente frequentes, provas de ignorância e prazer em humilhações púbicas, verdadeiros abusos de autoridade. Se por um lado, essa cultura não tinha relação objetiva e automática com a verdadeira santidade, o que se tem hoje expressa a baderna e uma incoerência desproporcional, tanto quanto àquela.
Há sessenta anos ou mais, quando o agora idoso cantor evangélico e pastor, Feliciano Amaral, gravou o primeiro disco evangélico no Brasil, sem mídia, sem produtores profissionais, sem empresários, sem patrocínio, sem estratégia de mídia, etc, um compacto duplo, ou ainda quando outro grande cantor Luiz de Carvalho gravara o primeiro LP, quase nas mesmas condições não ocorreram as discrepâncias reais e muitas vezes ocultas ao povo crente como vemos, pior, publicamente hoje, sendo um lado oculto e negro da música cristã apenas para quem simplesmente não quer ver.
Vale, entretanto, antes das revelações seguintes, que do ponto de vista de Deus, vale o que fora dito pelo Senhor Jesus: deixe o trigo e o joio juntos, pois ao cortar-se o joio se perderá também o trigo. Logo não se trata de uma erradicação pura e simples de toda canção, de todo cancioneiro cristão produzido em passado mais ou menos recente ou ainda atual. Mas uma peneira tem que ser usada, separando-se para o ouvinte crente, o que convém e o que não convém, gastar-se dinheiro, idolatrar-se artistas, tomá-los como modelos, segui-los ao invés de seguir-se ao próprio Senhor Jesus. Igualmente a separação entre o mundano e o santo e desejavelmente irreversível, se faz novamente desejável e salutar, baseado agora não em aparência como cabelos, roupas, etc.
Normalmente se compreende como atitude mundana vícios grosseiros como fumo, bastante visível, seja pelo fato do fumante fumá-lo publicamente ou pela percepção odor de fumo, uso de balas e de chicletes para mascará-lo ou a atitude quase cômica caracterizada por fugas estranhas para a prática nociva do vício. Entretanto ser um cristão “mundano” é decididamente muito mais que isso, pode não ser tão ostensivo, público, percebível, e assumir atitudes e um histórico muito mais complexo. Imagine o Senhor Jesus, perfeitamente irrepreensível acusado de comilão e bebedor, além de andar com publicanos. O que acontece conosco, com qualquer um de nós, é justamente o contrário: podemos ser bem vistos pelas pessoas, conhecidos mais próximos ou pessoas mais distantes e termos comportamentos ambíguos, controversos, questionáveis ou ainda claramente duvidosos. Sobe o Senhor Jesus na proximidade de Satanás, chamado por Ele mesmo de “príncipe desse mundo” afirmou “nada ter com ele” ( Satanás ). Mesmo que muitos de nós não tenhamos parte com Satanás, podemos devido a nossa incapacidade estarmos profundamente incoerentes referentes a determinadas coisas. O pior que muitos de nós, e nisso os artistas são pródigos, cantores, músicos, etc, pela natureza de seu trabalho, a pensarmos que não há nada de errado mantendo um lado mais palatável ao público como se tudo estivesse perfeitamente bem.
A verdade que ninguém é melhor cristão, melhor crente por ser “artista” senão numa relação objetiva todos os demais desprovidos de igual talento, estariam em um nível mais baixo dentro da igreja cristã, a verdadeira noiva de Cristo. O pior que como justificativa barata isso já foi feito, não por mal talvez, mas irresponsavelmente, ao se criar por discurso palatável de alguns, uma classe moderna de “levitas”. Tal discurso aceito acriticamente por boa parte da classe de artistas neo gospels foi logo assumida criando uma certa idolatria e imitação generalizada, sendo que muitas canções nem teológica nem esteticamente se recomendariam a si mesmas.
Mas voltemos ou abordemos os reais fatos referentes à indústria da música:
Antes da invenção do primeiro processo de gravação do som, a música em geral, tanto a sacra como a secular ou profana só existia ao vivo de forma presencial. Isso se deu praticamente no início do século XX, com a invenção do fonógrafo, patenteado por Thomas A. Edson. Com a invenção e popularização do reprodutor de discos, o gramofone, a música deixa de ser presencial e passa a ser desassociada de seu autor ou cantor.
A segunda revolução na produção musical foi a invenção da fita K-7, embora a invenção da gravação magnética do som tenha sido bem mais anterior, a invenção da fita k-7, totalmente portátil, regravável e editável se tornou uma revolução tanto na composição, na gravação caseira, na gravação profissional, na distribuição e universalização da música, muito mais que o seu antecessor industrial, o disco de vinil. As vendas de música em discos de vinil despencaram em todo o mundo possibilitando uma, a pirataria ou seja, a reprodução aquém do mercado e dos direitos do próprio autor e distribuidor da obra fonográfica.
O eixo tecnológico ou a patente dessa nova forma de distribuir música, e não somente música, migrou dos EUA para a Europa. A invenção seguinte e uma nova revolução na indústria fonográfica e no consumo de música viria com a invenção do CD de áudio ( compact disc ) pelo conglomerado holandês, alemão e japones. Com melhor sonoridade, durabilidade tida como infinita em condições ideais, capacidade de gravação caseira, reprodução rápida, copia e distribuição movimentaram novamente o mundo.
Ainda um desenvolvimento seguinte viria novamente a mudar todo o cenário da distribuição e fluição musical: a invenção dos arquivos digitais ( o Cd de áudio não é digital, mas analógico, no formato WAV ), o mp3 e formatos análogos como OGG e outros.
Ao lado dos avanos tecnológicos, métodos de gravação, reprodução, distribuição e venda não se desenvolveram a parte de outros vícios da indústria fonográfica e dos próprios artistas. Desde, aliás, antes do século XX, produtores e representantes de artistas e de companhias artísticas, usavam a tática de comprar e distribuir cadeiras para óperas e outras apresentações inclusive de música erudita. Durante o século XX, todas as maneiras espúrias de promover artistas e peças musicais. Desde corrupção de todas as maneiras até algumas formas mais inusitadas de oferecer prostitutas aos programadores das emissoras de rádio em plenos estúdios, além do pernicioso e conhecido “jabá”, pagamento em dinheiro vivo a qualquer um integrante da mídia, jornalistas, críticos de música, donos de emissora de rádios, radialistas, distribuidores, dos logistas, etc.
O que aconteceu com o novo produto de música religiosa, cristã evangélica e mais recentemente católica, segue os mesmos moldes do mercado secular, infelizmente, inclusive pagando pelas canções e aos artistas montantes baseados no que se paga a artistas e canções do mercado não religioso. Evidentemente não se pode dizer que todos os cantores e bandas cristãs evangélicas se deixem secularizar tanto a sua música como produto e a sua carreira como de um artista secular, mas é inegável que atualmente, isso é quase uma regra.
Há de se convir que enquanto a produção musical era feita de forma sincera, esporádica, independente poucos se arriscavam a fazê-lo. Hoje entretanto, com as fortunas, regalias, reconhecimento, prêmios como real possibilidade, muito mais candidatos se lançam hoje a uma disputa frenética e ambiciosa em busca de sucesso, reconhecimento e claro fortuna.
Outro vício reproduzido do mercado secular é a relação entre autores e interpretes. No início da música evangélica, gospel, normalmente os autores eram também os intérpretes, mas agora, como no mercado secular há uma oferta e um banco de canções autorais a ser oferecidas aos cantores que já possuem nome e penetração no mercado e todo um movimento para se conseguir canções que dadas a certos intérpretes podem com certeza almejar maiores vendagens. Acrescente-se a isso o fato de não haver mais associação direta entre o intérprete e a própria canção, entre o que ele ou ela canta e o que se acredite ou se viva.
Incontáveis são os processos os direitos autorais, desavenças entre autores e intérpretes, pessoas que compuseram canções juntas e por claro interesse nos possíveis lucros com as mesmas, ou proíbem a execução pública uns dos outros. Todos esses exemplos são reais e poderiam ser citados com implicados em cada caso, mas não é esse o primeiro propósito dessa postagem.
Outros casos e bastante comuns, é o caso de artistas seculares, convertidos em alguma denominação com grande visibilidade, passam a como dito antes, a gravar discos, com canções religiosas e depois ou apostatam da fé ou se metem escândalos inacreditáveis e injustificáveis… e os exemplos, são dessa vez muitos!
Mas a coisa não pára aí: hoje praticamente nenhum artista ou cantor se limita a ir a alguma igreja, dar o seu testemunho, cantar suas canções mais conhecidas e pregar, só vão a grandes eventos e nem precisa ser só grandes igrejas, fazem exigências megalomaníacas como artistas seculares desequilibrados e cobram fortunas que são pagas imediatamente pelos cofres das referidas igrejas, claro tirada essas fortunas dos muitos dízimos e ofertas e de outros negócios das igrejas gerando, não almas, mas membros, dízimos e capitalização como qualquer empreendimento.
Evidentemente não citarei nomes por serem os velhos escândalos e novos conhecidos em sua maioria publicamente ainda mais que a mídia ativamente deseja desconstruir a figura de cada crente quase que inconscientemente a serviço, sem saber, das próprias trevas. Os mais sinceros se quiserem se manter em destaque e com as suas carreiras relembradas devem em certa medida se deixar corromper. Os que se chocaram com esse estado de coisas abandonaram o barco e hoje não são sequer lembrados e suas abençoadoras canções raramente são tocadas nas rádios evangélicas ou sequer lembradas nos cânticos nas igrejas.
O exagero em igualar as carreiras de cantores e artistas “gospel” ativamente chegou ao cúmulo de se pretender cobrar direitos autorais das igrejas por cantarem suas canções levando a cada igreja a ter suas gravadoras, seus discos, seus artistas e proibir que sinalizar que outros cantores e outras igrejas não executassem tais canções ou cantassem publicamente. Se isso na prática não vingou fez com que cada denominação se precavesse contra reclamações jurídicas e legais e criasse seu próprio repertório como se outras canções não existissem.
O polêmico bispo Macedo da Igreja Universal, durante alguns anos impulsionou a música evangélica no Brasil, criando e veiculando em horário nobre em uma produção digna de um Grammy, o Troféu Talento, que enfrentou a resistência de gravadoras em não ceder seus “artistas” por um tal contrato comum no mercado secular, de “exclusividade”. Finalmente por ambição o produtor do tal troféu, bandeia-se para a Rede Globo, com o nome de “Trofeu Promessa”, levando boa parte dos artistas impulsionados pelo antigo “Troféu Talento” e agora participantes do novo concurso, a participarem de programas de entrevistas da Rede Globo, frente a apresentadores de enorme audiência, como Fátima Bernardes, Faustão e Serginho Grosmam, entre outros.
Tal reviravolta, já que o Troféu Talento do bispo Macedo não vendia espaços comerciais, e levava o cast da Record a ter contato e testemunho com os cantores evangélicos, a investir nos anos seguintes em duas ou três produções ( a mesma do Troféu Talento ) com um coral de mendigos, veiculado em horário nobre, uma resposta a ambição dos que migraram para o “Troféu Promessa” e para a Rede Globo.
Em uma outra situação grande parte dos artistas “gospels” se irou quando o mesmo bispo Macedo chamou-os de endemoniados, afirmando taxativamente que noventa por cento deles eram endemoniados. Pelo sim e pelo não, a onde de escândalos sexuais, traições conjugais, segundo, terceiro casamentos, separações, fornicação e adultério assolou muitos desses artistas, fato acontecido até no presente, nesses dias que escrevo essa postagem. Novatos elevados, do anonimato a “levitas” se revelaram homossexuais, nos EUA e no Brasil ( novamente não cito nomes para não ser desonestamente processado ). Fora o rol de declarações e afirmações esquisitas, irresponsáveis feitas recorrentemente por essas “celebridades gospels”.
Suas declarações se tornam regra para seus milhões de seguidores por mais estapafúrdias que sejam. Ostentação, leviandade em clipes, sensualidade pueril copiada de clichês de produções mundanas, um desastre. Certos artistas cujo comportamento é mais de um animador patético de auditório.
Cabe uma observação, que esses mesmos artistas que cometem deslizes são os mesmos autores e interpretes de canções que levaram mensagens importantes e milhões a Cristo. Muitos cujas vidas e comportamento não correspondem ao expresso em suas outrora sinceras canções, ou caíram da fé ou voltaram suas composições ao mercado secular e alguns jogam dos dois lados, tentando manter como na milenar filosofia chinesa, alcançar o mesmo e único objetivo, seguindo dois caminhos paralelos que jamais se cruzam, como se não houvesse nenhum mal nisso. E novamente os exemplos são reais e poderia listar todos os nomes e canções composta por cada um.
Aparentemente ficam de fora os velhos e tradicionais hinos de hinários denominacionais ( Cantor Cristão, Harpa Cristã, Salos e Hinos entre outros ) mas mesmos estes são regravados com arranjos modernos e apressados, na falta de um repertório novo para se honrar um contrato, quem sabe de um disco a cada ano, movimentando a exemplo do mundo, usando as mesmas armas, sorteios nas rádios, entrevistas pagas, marketing, do meio secular. Houve até um caso de duas denominações que não têm nenhuma afinidade e cujos membros de uma têm enormes restrições ao modo operandi da outra ( uma sensação de superioridade que não é nem ao menos cristã ), cujo líder da outra foi convidado e aceitou a dirigir uma reunião principal a sua maneira na primeira porque um contrato de um seu artista cm a segunda que tinha ( e tem ) uma gravadora e portanto um selo e distribuição muito mais poderoso no mercado. Essa reunião só aconteceu uma vez e jamais se repetirá. Nota: os membros das duas jamais entenderam o ocorrido. Eu estava lá!
Claro que, como eu disse, em um primeiro momento, isso se mostrou muito bom e milhões de pessoas foram impactadas por um tipo de repertório que empurrou tanto lixo musical e ideológico para longe dos ouvidos das pessoas, que levou tanta gente a ser curada, salva, restaurada, mas que hoje cai em um descredito e produz aberrações, escândalos, desvios de comportamento que não ocorriam no tempo da dificuldade de se compor, gravar um disco, ser cantor, cantora, uma banda e penosamente visitar ou chegar a ser conhecido em cada lugar distante de nosso país. Quado ainda não representava o segundo lugar de vendas, apenas atrás do falso neo sertanejo que alcança um público único e pouco exigente e crítico, chegando muito perto deste, movimentando mais de um bilhão de reais diretos, fora a sua influência indireta em cursos de música, venda de instrumentos musicais e multiplicação de instrumentistas sem dúvida aplicados e talentosos há décadas.
Por Helvécio S. Pereira*
*Graduado em Desenho, Plástica, História da Arte pela UFMG/ Pedagogo pela UEMG
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