Infelizmente, boa parte, ou a maior parte da nossa vida cristã religiosa é constituída de pura distração. Centenas, milhares de livros sobre vários assuntos, música, discos de música cristã, debates sobre mil questões, congressos, acampamentos, treinamentos, palestras, coisas legitimas mas que nossos irmãos, crentes no Deus bíblico e único Deus verdadeiro, há dois mil anos ou mais, jamais dispuseram para preencher suas curtas e sofridas vidas.
Isso não significa que coisas da nossa vida moderna, coisas essas a serviço de boas coisas devam ser abominadas, desprezadas, abandonadas e combatidas. Mas semelhantemente ao que Jesus nos lembrara que o sábado fora feito ( ou exista ) por causa do homem e não ao contrário, o homem por causa do sábado, todas essas coisas não constituem a essência da fé cristã, aquela fé básica e necessária para a salvação e para a própria comunhão com Deus.
Dentro dessa encheção de linguiça estão todas as controvérsias consequentes da luta contra todo oportunismo do erro ( exatamente: criamos erros justamente no exercício do ócio, para preencher um vazio de espiritualidade prática ) o qual sem a sua manifestação ( do erro ) o combate a ele seria desnecessário. Bom seria que uma vez crido em Cristo e crentes guardássemos imaculada e toda suficiente fé bastante para a salvação. Ou será que os iletrados, habitantes de época atrasadas, totalmente desprovido de privilégios, prazeres litúrgicos e maracutaias religiosas teriam ou terão uma salvação menor do que crentes do século XXI tão antenados e com tantas coisas agradáveis de serrem desfrutadas e feitas como nós?
Só se escreve livros contra, por exemplo, o mormonismo, porque o mormonismo surgiu se complexou e hoje é uma instituição legal, com legítimo direito de dizer e proclamar as suas sandices. O mesmo vale para as Testemunhas de Jeová, parte da teologia adventista do sétimo dia; contra o catolicismo romano, contra os unitaristas como a igreja brasileira Voz da Verdade e mesmo contra erros vez ou outra espalhados dentro do cristianismo evangélico mais normal como a mais ou menos recente teoria de que Davi era bastardo entre outras inutilidades.
Mais uma vez irmãos em Cristo de confissão calvinistas podem ficar chateados comigo, mas o calvinismo é uma grande distração teológica que muitos calvinistas por serem exemplares cristãos e crentes deveriam se desocupar. Um calvinista pode ler centenas de livros contra o calvinismo e por teimosia ou medo continuar calvinista, fato explicado, por ser mais do que algo racional, apenas apego a uma posição particular falsamente associada a sua real experiência cristã. Aparentemente parece ser mais difícil ou até impossível se ter ou se cultivar uma fé mais correta sem ter pares, iguais, que o tempo todo lhes dê tapinhas nas costas e te bajulem e te digam "você está certo em concordar conosco!"
Mas se o Calvinismo está correto, o episódio usado como meditação nessa postagem não passa de mera piada ou é absolutamente inútil.
Deve-se recordar antes de sua menção que basicamente o calvinismo afirma, sem aquela técnicacidade de expressões teológicas forjadas por eles com auto grau de pedantismo que na humanidade, em toda a sua história, do primeiro ao último humano ou humana uns nasceram e nascem ainda já perdidos ou salvos. Ou seja: todos já estão predeterminados para serem salvos ou par serem perdidos, e mais por consequência dessa delirante teologia determinista ( e isso é mais delirante e louco ainda ) cada fato do cotidiano é determinado por Deus: de um estupro coletivo á queda de um avião por decisão unilateral de um piloto em depressão, como no caso daquele voo da Alemanha ).
Aliás é bíblico que se um "abismo chame outro abismo", um erro induz a outro erro! as vezes uma pergunta honesta e correta como a feita pelo grande reformador João Calvino: "Por que não creem no Evangelho?" e uma resposta apressada dele mesmo: "porque não podem!" e biblicamente incorreta!
Mas vamos ao texto:
“… Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem …” (Lc 23.34).
O Senhor Jesus Cristo ora na cruz ao Pai, pedindo perdão para os que o crucificam ou lhe insultam na cruz, "por não saberem o que fazem"!
Inicialmente, após lermos o texto no Evangelho, vale lembrar, é obrigatório nos lembrarmos que perdão é anulação de culpa, de modo que qualquer ser humano inteira e totalmente perdoado teria o direito de ter o acesso e comunhão com Deus inteiramente restaurado, pois é exatamente o pecado e não a falta de inteligência, ou importância, ou nascimento, etnia, etc que nos separa espiritualmente de nosso Criador.
Logo não há outra opção: um perdoado tem seu acesso a Deus restaurado enquanto um não perdoado não o tem. Também é verdade que todo salvo o é por ter sido perdoado e o não salvo, por melhor cidadão que tenha sido, e perdido, não salvo por não ter sido perdoado. Pedro foi perdoado, Saulo foi perdoado, Davi foi perdoado e Judas não o foi. Simples assim.
Segundo os irmãos calvinistas, Pedro, Saulo ( ou Paulo ), Davi eram predestinados e Judas também, só que Judas para a perdição que a primeira vista pode soar biblicamente lógico, mas não o é.
A Bíblia afirma que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus e dessa forma da comunhão e portanto, por consequência, a salvação.
Mas olhem, se Jesus pôde orar pelo perdão dos pecados daquelas pessoas, sabendo que :
1) não poderiam ser perdoadas pelo Pai;
2) que poderiam ser perdoadas somente daquele pecado ( e que caso não cressem nEle posteriormente nada lhes aproveitaria );
Isso lhes seriam, para aquelas pessoas, algo absolutamente inútil!
Vejamos o porquê:
Se foi uma oração absolutamente emocional como a feita anteriormente no Jardim do Getsêmani, pedindo ao mesmo Pai que se fosse possível afastasse dele, Jesus, o cálice, da morte na cruz, com o Pi dizendo-Lhe "não" essa segunda oração emocional na Cruz, seria sim uma inutilidade: um pedido inapropriado e inútil as pessoas alvo de seu clamor.
Se naquela multidão, em tese houvesse os predestinados à salvação, não necessitariam de tal oração ou súplica por parte de Jesus. Igualmente os perdidos predestinados ao inferno igualmente não se poderiam dele beneficiar-se!
Uma segunda reflexão é igualmente plausível:
Se a oração de Jesus foi atendida pelo Pai e não se restringira a apenas aquele episódio, todas aquelas pessoas seriam todas, automaticamente salvas para sempre.
Entretanto, se a oração feita por Jesus foi plausível, real e foi atendida pelo Pai, podemos entender e ver a situação pelo viés mais correto:
O Pai não imporá aqueles atos e ações a qualquer uma daquelas pessoas no dia do Juízo Final, mesmo que pelo fato de jamais terem se convertido e crido em Cristo e portanto condenadas pela condenação eterna.
Logo aquele pecado cometido contra ele naquela ocasião não lhes foram imputados para castigo futuro como referido por Jesus a certa personagem: "de lá não sairá até que pague o último ceitil!"
*Mateus, capítulo 5, versículos 25 e 26.
Logo aquele pecado cometido contra ele naquela ocasião não lhes foram imputados para castigo futuro como referido por Jesus a certa personagem: "de lá não sairá até que pague o último ceitil!"
*Mateus, capítulo 5, versículos 25 e 26.
Vejamos o que está escrito:
“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.”
Mas como é isso???
Sodoma e Gomorra foram condenadas, as duas cidades foram destruídas e todos os seus habitantes mortos sem terem tido uma fé salvadora, correto?
Entretanto em certa passagem dos Evangelhos o Senhor Jesus clama: " Ái de ti Betsaida, ái de ti Corazim, se em Sodoma e em Gomorra houvesse sido feito os milagres que foram feitos aqui, há muito teriam arrependido com caco e cinza. Em verdade vos digo que haverá menos rigor para elas no dia do Juízo"!
O que será o Juízo?
Um criterioso e perfeito julgamento em que todos os atos de cada ser humano serão publicamente lembrados e cada um será julgado conforme as suas obras!
O que será dos "salvos"?
O 'salvos' não entrarão em Juízo, foram lavados no sangue do Cordeiro. Portanto o simples, econômico, facilmente acessível, ato de crer e confessar a Jesus como Filho de Deus e Salvador, nos lava de todo pecado, nos livra do Juízo!
Dentre as testemunhas do martírio público do Senhor Jesus havia os que creram nEle, incluindo um dos condenados ao seu lado. A oração de Jesus na cruz não foi para estes mas para a turba que não cria nEle e que além disso era instrumentos humanos de seu assassinato e humilhação. Se alguns desses morreram dias, meses ou anos depois sem crerem, suas almas se perderam, mas mesmo assim o pecado de terem afrigido a Cristo, segundo a sua oração não lhes seria e não lhes será imputado no Juízo final.
Logo fica claro que a experiencia e a vida humana na Terra é de fato uma experiencia dinâmica, em que quatro atores definem cada destino: Deus, Satanás, o próprio ser humano e as circunstâncias.
Deus como o único provedor da existência de todas as coisas; Satanás como o oportunista que caso consiga espaço terá ou não certa influência; o homem como ser inteligente e capaz de escolher (mesmo que a escolha certa, justa e louvável por sua inclinação ao pecado pareça ser lhe tão difícil ) e finalmente as circunstâncias ( muitos de nós se estivéssemos vivendo naquele tempo como personagens oculares daqueles eventos poderíamos até escolher as mesmas posições erradas dos fariseus, de Pilatos, de Judas Iscariotes, de Pedro, de Tomé, de Saulo, etc. )
Conclusão:
O determinismo calvinista é uma ilusão que confrontada diante de muitos relatos factuais bíblicos tem desvendada a sua natural contradição e insustentabilidade.
Por Helvécio S. Pereira
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Quanto aos objetos desta oração, as interpretações são bem heterogêneas. Segundo Robertson, “Jesus evidentemente está orando pelos soldados romanos, que estavam apenas cumprindo ordens, mas não pelo Sinédrio”.[6] Hendriksen discorda de Robertson quanto a exclusão do Sinédrio.[7] Kevan entende que esta é “uma oração não só para os soldados romanos, mas também para os judeus”.[8] Morris argumenta que a oração de Jesus “Não define restritamente aqueles em prol dos quais Ele ora, e Seu lhesprovavelmente inclua tanto os judeus que eram responsáveis pela crucificação quanto os romanos que a levaram a efeito (cf. At 2.23; 3.17; 13.27,28; 1Co 2.8)”.[9] Barnes diz que não fica claro se Jesus está se referindo “aos judeus ou aos soldados romanos. Talvez refira-se a ambos”.[10] Champlin inclui a todos nesta oração: “Os intérpretes se equivocam quando tentam limitar as aplicações dessa declaração, dizendo ‘não Pilatos’, e nem os ‘escribas e fariseus’, etc., por terem pecado contra o conhecimento e a luz”.[11]Lenski é cauteloso ao responder a pergunta que ele mesmo faz, Estavam Caifás e Pilatos incluídos? “Nós preferimos não fazer julgamentos individuais, pois somente Deus conhece os corações e o grau de pecado deles por falta de melhor conhecimento”.[12]
Penso que o Sinédrio, enquanto instituição e organização, realmente não estava incluído nesta oração; porém, indivíduos, membros do Sinédrio, não podem ser descartados dela. Nicodemos, Paulo e outros, são exemplos disso. Os judeus também foram lembrados. “Não o povo como um todo, mas muitas famílias e indivíduos foram convertidos”.[13] Do mesmo modo todos aqueles que vieram e virão a crer em Jesus, sendo judeus ou não.
c) “Porque não sabem o que fazem”
Quem, daquelas pessoas que ali se encontravam e participavam direta ou indiretamente da crucificação de Cristo, sabia realmente o que estava fazendo? Hendriksen diz que os soldados certamente não sabiam. E mesmo os membros do Sinédrio, embora devessem saber que estavam fazendo o que era mau (cf. Jo 11.47-53), não compreenderam a extensão daquela maldade.[14]
O Pai ouviu e respondeu esta oração? É evidente que sim. Nesta oração está incluído, dentre outros atributos, o apelo à misericórdia e longanimidade de Deus (cf. 2 Pe 3.9). O Pai reteve a sua ira, ao deixar de derramar de imediato sua fúria sobre os pecadores. Haja vista que a queda de Jerusalém não ocorreu imediatamente. Por um período de cerca de quarenta anos o evangelho da salvação foi amplamente proclamado aos judeus. No dia de Pentecostes quase três mil foram convertidos (At 2.31,42); pouco mais tarde “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil” (At 4.4). E “também muitíssimos sacerdotes obedeciam a fé” (At 6.7). Além disso, o maior perseguidor da igreja foi salvo (At 9). Através de Paulo o evangelho pôde ser levado aos gentios e assim todas as famílias da terra foram e estão sendo abençoadas.
Nós estávamos lá, representados por aqueles que crucificaram o Senhor da glória, e por causa daquela oração também fomos alcançados e perdoados.
2) O significado teológico desta oração e sua relação com o Antigo e o Novo Testamentos
a) O significado teológico desta oração
Comentando acerca da gravidade do pecado, mesmo que por ignorância, J. C. Ryle disse:
O princípio que essas palavras (de Lucas 23.34) encerram merece bastante atenção. Por outro lado, importa não supor que a ignorância não seja culpável e que os ignorantes merecem o perdão. Segundo esse critério a ignorância seria um dom de grande preço. Por outro lado, não se pode negar que a Escritura ensina que os pecados cometidos por ignorância são menos graves aos olhos de Deus do que os que se cometem com pleno conhecimento. Em nosso conceito, o que Jesus queria dizer com as palavras citadas foi que aqueles que o crucificaram não compreenderam a grandeza da malvadez que estavam praticando. Sabiam que estavam crucificando um homem a quem reputavam impostor, mas não sabiam que esse homem era o Messias prometido, o Filho de Deus.[15]
Deus perdoa nosso pecado não por causa da ignorância, mas apesar dela, visto que a ignorância não justifica o erro e muito menos absolve alguém do pecado. Além disso, sofrendo intensa dor naquela cruz, Cristo “não só era condenado pela iniqüidade dos homens, mas ao mesmo tempo, era condenado pela justiça de Deus! Sim, na cruz, Jesus ocupava, como se fora o réu, o lugar de pecador”.[16] É como se Ele dissesse ao Pai, “eles não sabem o que fazem, mas eu sim, eu assumo a culpa deles!”.
No entanto, a frase “eles não sabem o que fazem” não quer dizer que os objetos da intercessão de Cristo estavam inconscientes do crime que praticavam. O pecado por ignorância inclui tanto os atos conscientes da desobediência quanto transgressões cometidas como o resultado de fraqueza e fragilidade, conforme observa MacArthur:
Essas pessoas estavam se comportando de modo cruel e sabiam disso. A maioria estava completamente ciente do fato de seu mau procedimento. O próprio Pilatos tinha testemunhado da inocência de Jesus. O Sinédrio estava completamente ciente de que nenhuma acusação legítima poderia ser apresentada contra ele. Os soldados e a multidão poderiam facilmente ver que uma grande injustiça estava sendo cometida, e mesmo assim eles todos alegremente participaram. Muitos dos espectadores que estavam escarnecendo no Calvário tinham ouvido Cristo ensinar e o tinham visto fazer milagres. Eles realmente não poderiam ter acreditado no próprio coração que ele merecia morrer desse modo. A própria ignorância deles era inescusável, e certamente não os absolvia da culpa pelo que estavam fazendo.[17]
Então, por que Jesus orou, “… Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem …” se na verdade aquelas pessoas sabiam que Ele era inocente? Jesus orou assim porque elas não tinham idéia daenormidade do crime que estavam cometendo. Não sabiam que matavam o Autor da vida.
b) Sua relação com o Antigo Testamento
Qual o significado da oração de Jesus (“Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”) à luz do Antigo Testamento? Os comentaristas costumeiramente fazem uma ligação entre Lucas 23.34 e Isaías 53[18] (em especial com o versículo 12) e vice-versa. Isaías 53.12 diz: “Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu”.
Conquanto seja correto afirmar que Lucas 23.34 é “um cumprimento literal”[19] de Isaías 53.12, esta última passagem não diz tudo acerca da primeira. Isaías 53.12 fala da intercessão mediadora do Messias que havia de vir, de um modo geral; mas não trata especificamente a questão da ignorância. Por isso, é necessário que voltemos as páginas de nossa Bíblia no livro de Levítico. Note que o capítulo 4 de Levítico relata uma série de sacrifícios pelos pecados por ignorância, isto é, os sacrifícios pelos pecados por ignorância dos sacerdotes; os sacrifícios pelos pecados por ignorância de toda a congregação; os sacrifícios pelos pecados por ignorância de um príncipe e os sacrifícios pelos pecados por ignorância de qualquer pessoa. Observe também que os sacrifícios por ignorância dos sacerdotes e os de toda a congregação eram semelhantes em seu final, enquanto que os sacrifícios por ignorância de um príncipe e os de qualquer pessoa eram distintos dos dois primeiros.[20]
Acerca do sacrifício pelo pecado por ignorância de um sacerdote ou de toda a congregação[21], é dito que o novilho deveria ser levado para fora do arraial para ser queimado sobre a lenha (Lv 4.12,21; cf. Hb 13.11,12). Se por um lado é certo dizer que Cristo foi o perfeito Mediador de Lucas 23.34, do outro também podemos afirmar que Ele se entregou totalmente ao Pai como um sacerdote (ou sumo sacerdote) com pecados, por assim dizer; como a vítima do e pelo pecado; como o representante e substituto de uma coletividade pecadora (cf. Jo 11.49-52; 2 Co 5.21; Hb 7.26,27 [leia no verso 27 a expressão “… porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”, tendo em vista o antecedente dela]). A oração de Jesus em Lucas 23.34 não consistiu de palavras soltas ao vento, inventadas por Ele naquela hora. Ele estava cumprindo cabalmente as Escrituras.
c) Sua relação com o Novo Testamento
Após a ressurreição de Jesus e o cumprimento da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, os apóstolos entenderam o significado da oração do Senhor em Lucas 23.34.
Durante seu discurso no templo, Pedro diz ao povo: “Dessarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas” (At 3.15). E completa: “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também as vossas autoridades; mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas: que o seu Cristo havia de padecer” (At 3.17,18).
Em seu testemunho em Antioquia da Pisídia, Paulo afirma: “Pois os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se lêem todos os sábados, quando o condenaram, cumpriram as profecias; e, embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto” (At 13.27,28). E em Atenas o apóstolo discursa: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.30,31).
Aos coríntios Paulo escreve: “Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1Co 2.6-8).
Aos efésios ele diz: “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza” (Ef 4.17-19).
E a Timóteo: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade” (1Tm 1.12,13).
Pedro conclui: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pe 1.14-16).
3) As implicações desta oração para o povo de Deus
A oração de Jesus em Lucas 23.34 sugere implicações importantes para a nossa vida. Gostaria de considerá-las com você, ainda que resumidamente.
a) Quanto à paternidade de Deus e a nossa filiação
O conceito de paternidade é revolucionário no Novo Testamento. O Senhor Jesus ensinou aos seus discípulos e a nós que adquirimos o direito de sermos chamados filhos de Deus quando o recebemos pela fé (Jo 1.13; cf. Gl 3.26). Em sua primeira epístola, o apóstolo João declara: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus…” (1Jo 3.1). E Paulo complementa: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.16,17).
Na cruz Cristo pagou um alto preço para que você e eu fôssemos salvos gratuitamente. Isso nos deve levar a uma reflexão séria no sentido de que precisamos viver a vida cristã em compromisso diante de Deus e da sociedade; no relacionamento familiar e eclesiástico. Numa vida de fé e obediência, de amor ao Senhor e ao próximo; no testemunho consciente de que realmente somos filhos de Deus.
b) Quanto ao perdão de Deus e a nossa absolvição (justificação)
A Bíblia diz que “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus ” (Rm 8.1). E ainda: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2).
A maravilhosa graça de Deus é indescritível. Por graça e amor Jesus deu a vida por nós. Pediu que o Pai nos perdoasse e foi atendido. Fomos declarados justos a pesar de pecadores. Fomos aceitos porque o Unigênito Filho de Deus tomou o nosso lugar na cruz.
Que o nosso coração transborde de alegria e gratidão por nosso Deus. Que a nossa boca se encha de júbilo pelo fato de que em Cristo Jesus somos livres para amar e servir.
c) Quanto à sabedoria de Deus e a nossa limitação
O homem natural é ignorante das coisas espirituais. Paulo diz: “Ora, o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14). No entanto, “A intimidade (ou o segredo, ARC) do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14).
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus!”, diz o apóstolo. “Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!” (Rm 11.33). Mas também: “Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1Co 2.16). Graças a Deus que, não levando em conta a nossa ignorância (cf. At 17.30), no sentido de que devêssemos pagar pessoalmente por ela, nos proporcionou salvação e clareza de entendimento com a sabedoria da redenção na pessoa de Jesus. “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, disse nosso Senhor.
“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus , o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.30,31).
Aleluia!
[1] Segundo Lenski, esta oração “foi proferida enquanto a crucificação estava em andamento ou imediatamente após”. (R. C. H. LENSKI, The Interpretation of St. Luke’s Gospel. Minneapolis : Augsburg Publishing House, 1946, p. 1132). Arndt segue a mesma linha de pensamento: “De acordo com o contexto a oração foi proferida quando os cravos atravessavam Suas mãos e pés ou imediatamente após a cruz ser levantada”. (William F. ARNDT, Concordia Classic Commentary Series: Luke. St. Louis : Concordia Publishing House, 1986, p. 469.
[2] A oração de Jesus em Lucas 23.34 não aparece em todos os manuscritos gregos. Contudo, ela se encontra em boa parte deles e em quase todas as antigas versões da Bíblia. Sua autenticidade é defendida por Pais da Igreja como Irineu, Clemente e Orígenes, e pelos comentaristas bíblicos em geral. Sobre outros detalhes do valor desta oração e as possíveis razões de sua omissão em alguns manuscritos, consulte Russell Norman CHAMPLIN, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Vol. II (Lucas-João). A Voz Bíblica Brasileira, p. 228; William HENDRIKSEN, New Testament Commentary: Exposition of the Gospel According to Luke. Grand Rapids : Baker Book House, 1981, p. 1028,40; Leon L. MORRIS, Lucas, Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1986, p. 306.
[3] CHAMPLIN, Lucas, p. 228.
[4] HENDRIKSEN, Luke, p. 1029.
[5] Ibidem.
[6] A. T. ROBERTSON, Word Pictures in the New Testament: The Gospel According to Luke, Vol. II. Grand rapids : Baker Book House, 1930, p. 285.
[7] HENDRIKSEN, Luke, p. 1029.
[8] E. F. KEVAN, O Evangelho Segundo S. Lucas. In: SHEDD, Russell P. O Novo Comentário da Bíblia, Vol. II. São Paulo: Vida Nova, 1987, p. 1056.
[9] MORRIS, Lucas, p. 306,7.
[10] Albert BARNES, Notes on the New Testament: The Gospels. Grand Rapids : Baker Book House, s/d, p. 156.
[11] CHAMPLIN, Lucas, p. 229.
[12] LENSKI, Luke, p. 1134.
[13] HENDRIKSEN, Luke, p. 1029.
[14] Idem, p. 1028.
[15] J. C. RYLE, Comentário Expositivo do Evangelho Segundo Lucas. Rio de Janeiro: Confederação Evangélica do Brasil, 1955, p. 330.
[16] Álvaro REIS, A Primeira Palavra da Cruz. In: A. C. NASCIMENTO (ed.). Sermões Selecionados, Volume I. Governador Valadares: Apoio Pastoral, 1999, p. 173.
[17] John MAcARTHUR, JR, A Morte de Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 208,9.
[18] “Tem-se dito corretamente que parece que este capítulo foi escrito aos pés da cruz do Gólgota” (J. RIDDERBOS, Isaías: Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica. São Paulo: Vida Nova/Mundo Cristão, 1986, p. 440.
[19] Ibidem.
[20] O príncipe não era mediador entre Deus e o povo no sentido específico em que o era o sacerdote. E o pecado de um indivíduo não representava o da coletividade, pelo menos não no contexto de Levítico 4.
[21] A passagem de Levítico 16 assemelha-se à do capítulo 4.1-21, com a diferença de que no capítulo 16 falava-se da oferta pelo pecado do sumo sacerdote e omite-se o pecado por ignorância (cf. Hb 5.1-3; 9.6,7).
Josivaldo de França Pereira é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição – SP. Licenciado em Filosofia pelas Faculdades Associadas do Ipiranga – SP. Mestre em Missiologia pela Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina-PR (www.ftsa.edu.br) e Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/Mackenzie – SP. É autor do livro Atos do Espírito Santo (Ed. Descoberta, 2002) e de vários ensaios e artigos bíblicos em jornais, revistas e Internet.
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