Boa parte da minissérie Rei Davi já foi ao ar com enorme e irreversível sucesso. Afora as bobagens e acusações de "crentes" criando polêmica em torno do patrocínio de uma marca de cervejas à minissérie ( algo sem razão para tanto alarde ) e aproveitando esses para alfinetar o bispo Edir Macedo por esse ter dito que bebia cerveja de vez em quando, quando a razão do exemplo em sua pregação é que Deus não se importa com coisas segundarias, religiosas, e o que importa é a relação pessoal do homem com Deus, tomando ele (o bispo Macedo ) um exemplo extremo dentro da cultura religiosa evangélica brasileira que nem é melhor ou pior que outras culturas protestantes pelo mundo a fora. Maldosamente e por antipatia desviam o assunto e o foco da mensagem que é válida e universal dentro do cristianismo bíblico, que a relação do homem com o Deus criador é:
1) Individual
2) Não religiosa ( denominacional, institucional, etc )
Essa era a mensagem convidando as pessoas a tomarem uma atitude diante de Deus, pois há coisas que só Deus vê, e dessas coisas esse ser humano tem quedar contas a Deus e não aos homens. Essa era a abordagem real na ocasião, abordagem verdadeira e urgente. Eu por exemplo sei de muitos e muitos casos de adultério em igrejas, de homens e mulheres que não tomam nem Biotônico Fontora ( medicamento com boa dose de teor alcoólico ) mas que comem uns aos outros e permanecem indo as suas igrejas como se nada tivesse acontecido...lavou guardou, tá limpo, cantando em corais, tocando instrumentos, dando abraços afetuosos no culto etc. E se a verdade for dita, sai morte! Eu pergunto: o que é pior? beber ( não estou dizendo para fazê-lo ) ou transar com a mulher do irmão?
Há muito adultério, fornicação, prostituição, homossexualismo, em igrejas respeitáveis, em igrejas as quais nem se aventa serem tidas como "seitas"...afora outros escândalos piores ( seria possível? sim infelizmente sim, muitas vezes é possível sim... e por razões as mas terríveis possíveis e imaginadas) e alguns "crentes" procurando chifres em cabeça de cavalos por nada e para nada...geralmente quem não faz pessoalmente nada pelo evangelho... O desafio é o que devemos priorizar com o nosso olhar? Aos outros ou a nós mesmos? A Bíblia nos adverte para cada um queixar-se de seus próprios pecados. A história de Davi nos convida a isso, sem pregação denominacional, sem convites tipo "pense como eu penso"...veja a história, perceba cada lição importante, e examine-se a si mesmo, é a grande e real oportunidade.
A direção da Rede Record esclareceu que a minissérie não é cristã, e não é mesmo, é uma história judaica, embora o judaísmo e a história de Israel seja naturalmente a base para a fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, Deus e Messias israelita. Outro barulho feito por crentes de meia pataca, barulho repito por nada.
Não basta "Rei Davi" ter vencido Golias e o BBB12, e ter alcançado primeiro lugar em quase todas as suas edições, empatado em outras tantas vezes... não basta a repercussão na web, em sites, em blogs. Não basta por conveniência, o pastor Silas Malafaia, Márcio Valadão, R.R. Soares não terem tecido nenhum elogio ou feito uma referência, ou até mesmo o Apóstolo Valdomiro Santiago. Todos reconhecem que é uma grande vitória investir tanto dinheiro e talento para levar em vinte nove capítulos uma biografia de um dos mais importantes personagens bíblicos, que não só cristãos, mas judeus e até muçulmanos possam estar tendo um prazer em ver. Enfim uma história bíblica é uma dádiva para o ser humano. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça e aprenda e, quem sabe, oxalá, oportunize a voz de Deus em seu coração.
Alguém pergunta acerca das repercussões "espirituais" ao assistir a minissérie, elas existem, existirão, já que não tem uma "pregação", um "apelo", uma exposição "doutrinária"? Um convite a ir a uma igreja, nem mesmo a igreja Universal?, nem propaganda de Bíblias, discos gospels, shows gospels, congressos, encontros, seminários, etc? Eu respondo ainda bem que a minissérie não favorece em nenhum momento a indústria de bugigangas evangélicas...até bom que um dos patrocinadores seja justamente a tal cerveja... atualmente todo programa "evangélico" a título de patrocínio empurra mais um cansativo, repetitivo e brega Cd ou DVD de alguém sinceramente muito chato...vende um livro de espiritualidade duvidosa e oportunista e convida para um tal congresso oportunista e caro...
A vida de Davi, do seu chamado até a queda definitiva de Saul é um exemplo e alerta urgentemente atual e pessoal. Ambos, Davi e Saul, não foram, e não são, figuras de incrédulos, de ateus objetivamente inimigos de Deus. São, para usar uma comparação atual, crentes na melhor acepção da palavra. Davi e Saul somos eu e você o tempo todo, sejamos nós desde membros de igrejas a pastores, passando por cantores, diáconos, conselheiros, evangelistas, professores de escolas bíblicas ou de seminários bíblicos, teólogos, velhos ou novos convertidos. Os desafios de Davi e de Saul dentro de uma determinada cultura, a de seu tempo e época, são os desafios impostos pela vida, pela sociedade com oportunidades, limites e desafios a serem suplantados, incluídos aí os desafios e limitações religiosas.
A diferença se dá como cada um, tendo as oportunidades e diate das dificuldades naturais, se manifesta, se revela diante de Deus. Calvinistas olham para a Bíblia e dizem que tudo está determinado. Essa é uma das cosmovisões cristãs, até mesmo fora do calvinismo como teologia, ela é a explicação mais cômoda para muitas situações. Outros como eu, entendem que Deus determinara um objetivo principal que não será anulado, mas que Ele como doador da vida deu e tem prazer em ver cada ser vivo criativamente reagindo a cada situação. Isso vai além, bem além da lenga-lenga filosófica-teólogica do tal do livre-arbítrio.
Israel pediu um rei, como as demais nações. Israel queria ser como os outros, ter exatamente o que os outros aparentemente tinham de bom aos olhos humanos. Israel tomara para si o modelo do mundo e não o de Deus. Deus lhes dissera que não deveriam ter um rei...logo o absolutismo nunca esteve no coração de Deus como sistema de governo. Só há um rei: Deus! Entretanto diante da insistente petição dos israelitas, Deus mesmo escolheu Saul certamente a melhor, a mais correta escolha possível ( já que foi feita por Deus ) naquela geração e Saul se tornou rei de Israel para uma missão específica por parte de Deus.
Saul entretanto foi acertando e errando, como todo ser humano, mas diferentemente como rei, como o tempo, foi errando mais que acertando, e errando gravemente em assuntos muito importantes, primordiais, preponderantes. Deus então escolhe outro rei para o seu povo Israel, povo de dura cervis, teimoso por excelência, que subiria ao trono em tempo oportuno: Davi. Davi não era perfeito, mas tinha características e elementos que Saul não tinha definitivamente. Outro dado é que Saul, segundo o que vemos em sua biografia, foi piorando ao longo do tempo. Saul não deixou de ser "crente", apenas se tornou um outro tipo de "crente" com características forjadas, nascidas, naquilo que ele ( Saul )e seus contemporâneos poderiam ainda admirar e respeitar. Saul era "crente" e um bom "crente" sob a ótica humana, da sua cultura, da sua época.
Trata-se de uma enorme e urgente lição para hoje. Há uma rica e complexa cultura que forma, dá forma ao crente, ao cristão evangélico hoje. Não basta e nem carece de ser convertido, basta gostar de determinadas música cristã e de artistas cristãos, falar como eles, pensar como eles e gostar de determinados tipos de reuniões, acampamentos e ter comportamentos de determinado grupo de crentes ou de cristãos. Vestir como eles, divertir-se como eles, encontrar-se e se relacionar com eles em lugares, horários, namorar, casar, e até trabalhar em igrejas, empresas e mídias cristãs. Ninguém é crente no Brasil por confessar a Jesus Cristo frente a morte e raramente por defenderem a vontade específica de Deus em algum assunto. Ninguém é cristão por defender a mais pura justiça, por exercer misericórdia, por abominar o pecado ( não os nominais, facilmente listados ), por ser fiel, justo, por amar biblicamente a Deus.
Somos muitas vezes como Saul e não como Davi, que se ofendia ao ouvir o Deus de Israel ( que não era só de Israel e nem é hoje só de Israel ou de cristãos ) ser blasfemado ou zombado e que em nome de e por esse Deus foi para o tudo ou nada no enfrentamento com o gigante Golias. Saul era "pé no chão", teologicamente correto mas sem fé sobrenatural. Para Saul nada do que está fora do script pode ser feito ou acontecer. Doença tem solução com o melhor plano de saúde...( não sou contra ) mas se não tenho nenhuma condição econômica e material, devo clamar ao meu Deus e esperar uma cura tão estupendamente "non sence" como a do general Naamã...e se ainda tiver condições materiais, pedirei ao Senhor que vá a frente e tome a mão do médico, que esteja com anjos na sala de cirurgia que ele mesmo me sare como o Deus que sara, o Deus doador da vida. Não quero ser crente Saul mas um crente Davi e muitas e decisivas ocasiões.
Quem assistiu , ou assistir ainda a minissérie com esse olhar, vendo as lutas, entrando na cultura da época, percebendo a complexidade e o lado caótico das relações políticas, religiosas e humanas e entender, a partir daí que, a despeito das nossas vidas miseráveis, Deus quer e pode, de acordo com a nossa fé, escolhas difíceis e diárias, intervir a nosso favor integrando a nossa inutilidade aos seus grandes planos terá valido a pena e aprendido uma lição de valor e consequências importantes para toda uma vida.
As biografia de Davi é um retrato de como pessoas podem ser integradas ao plano de Deus e rejeitadas a todo o momento. Essa aceitação por parte de Deus e a rejeição a nossas vidas, depois de crentes e como crentes, é algo que deveríamos pensar muito seriamente a cada dia. Muitos são chamados (oportunizados, têm oportunidade ) e poucos os escolhidos dissera o Senhor Jesus. Essa simples frase é entendida segundo vários aspectos e interesses. Calvinistas a vêem de um modo, arminianos de outro, e no embate teológico sobra pouco ou ate se perde a lição a ser nos ensinada. Afinal de que lado cada um de nós se coloca nessa questão: dos chamados e não escolhidos ou dos chamados e escolhidos. Há ainda a questão dos chamados, escolhidos e que não perseveram, que não se firmam e não continuam a jornada, pelo menos do jeito positivo e nobre que a iniciaram.
É finalmente muito cômodo termos recebido algo de Deus e que não importa o que façamos somos definitivamente melhores que os outros. Esse é um pensamento que históricamente agrada ao ser humano: ter a certeza, ou pelo menos se autoconvencer que não é tão vil e menor como o outro. Entre os crentes isso não é só patente como patético: " a minha igreja não é como aquela coisa, aquela seita...etc." Esquece-se que não são os mutos denominacionais, nem a letra nas confissṍes denominacionais, nem a posição teológica mais correta ( embora isso seja legítimo e desejável quanto possível ) mas o quanto como membros de Jesus Cristo conseguimos porcamente fazermos o que Ele faria se estivesse andando nesse mundo. É simples assim.
Temos todos ( calvinistas ou outra coisa ) o privilégio, a graça, a sorte, não sei que palavra é melhor para nos fazer entender essa grande realidade, de conhecermos ao Senhor, algo que milhões jamais tiveram, não têm hoje em muitas partes do mundo, em muitas culturas, em muitas situações, e isso faz simplesmente a diferença entre um CÉU e um INFERNO,portanto não é pouca coisa. Quantos de meus ancestrais não foram salvos por não terem simplesmente a informação que eu tive e tenho? sou um sortudo, você que tem essa mesma experiência é um sortudo, se achando predestinado ou não. Tivemos muita sorte. Você calvinista acha que não pode nem decair da sua situação privilegiada. Isso é originalmente ruim. Como Saul ( não estou falando de todos os calvinistas ) pode estar se achando e não avalia de fato a sua real espiritualidade. Mas não é só calvinistas que podem ter uma visão maior de si mesmos, quantos pastores medíocres, preguiçosos, medrosos, incrédulos teológicos, se vêem como homens de Deus, mais corretos teologicamente, escodem-se atrás de seus diplomas teológicos ou acadêmicos seculares, como se fosse o trono de Saul? Deus fez de Saul rei de Israel, mas Saul deixara de ser o rei de Israel do pondo de vista de Deus e Saul não se apercebeu e não se arrependeu,por não tê-lo reconhecido.
Somos as mesmas pessoas arrependidas e humilhadas sem nenhuma nobreza a nos orgulhar do dia da nossa conversão ( falo para calvinistas e arminianos, pentecostais e tradicionais, neopentecostais e outros )? Após alguns anos de "vida espiritual" que não se confunde com "vida cristã religiosa ", não nos achamos todos "o máximo" e "os reis da cocada preta"?
Quem somos diante de Deus para que Ele de fato nos abençoe e nos ponha de pé, e nos honre e nos coloque em destaque? Não deveríamos andar em temor e tremor justamente pela possibilidade de liberdade e erro que estamos constantemente expostos e sabendo disso nos socorrer na presença e na verdade do Senhor que conhece o nosso assentar e nosso levantar a cada dia?
Tiremos da história de Davi, o rei Davi, as importantes e eternas lições da Palavra de Deus, e Deus mesmo tenha misericórdia de cada um de nós. Amém.
Por Helvécio S. Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O QUE ACHOU DESSE ASSUNTO?