Há dois tipos de aprendizados a partir dos registros e textos da Bíblia, da Palavra de Deus: uns mais legitimamente teóricos e academicamente organizados e expostos e outros mais práticos. Basicamente no âmbito religioso esses dois conhecimentos se processam e se materializam fazendo parte de nossa vida. Não se trata apenas de uma característica da religiosidade judáico-cristã, embora sobre ela teço essas reflexões. Nós como cristãos e como crentes nos dividimos na prática em uma dessa duas posições extremadas ou encontramos um cômodo meio termo. Há momentos que uma aparentemente se faz mais necessária e em outros momentos outra do mesmo modo.
Filosoficamente há na história da fé cristã uma separação a partir da lógica de São Tomás de Aquino, mais conhecida como "andar de baixo" e "andar de cima", em que as coisas divinas não se comunicam com as coisas do mundo. Dessa forma uma teologia popular ou leiga pode ser crida a parte do conhecimento, por exemplo científico comprovado ou ainda a partir da constatação lógica mais clara. Um médico católico por exemplo, pode conhecer todos os mecanismos fisiológicos do ser humano e crer em "santa Luzia" como a protetora dos olhos. Não se trata de fé ou liberdade para tê-la mas da separação total entre o "andar de cima" e o "andar de baixo" na cosmovisão aquiniana.
Jesus se referiu a César, o imperador romano a sua época, quando questionado acerca se seus discípulos não pagavam os impostos, como coisas de Deus e coisas de César, "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus"".
Isso nada tem a ver com a compreensão expressa por Tomás de Aquino. No caso é outra coisa, não uma separação alienada, a falta de comprementariedade entre duas realidades, mas de equivalência de ações: coisas referentes à uma realidade espaço-temporal ( O império romano, o governo de César, sua autoridade até com relação ao povo judeu ) e as coisas que ultrapassam essa realidade espaço-temporal, as coisas de Deus. Nisso a Bíblia mais uma vez não se contradiz pois os homens ( nós hoje, César no passado ) todos somos propriedade de Deus. No filme 2010 uma continuação de 2001 Uma Odisséia no Espaço, há uma frase no final, concitando a paz mundial, registrando que o proprietário do universo, nos deu o mundo para o usarmos bem e chama-nos de inquilinos no universo. César o maior imperador do mais poderoso império a época de Jesus, era apenas um homem e propriedade de Deus. Sua autoridade e poder só existiam por permissão única de Deus, o único Senhor de todas as coisas. Como então separar as coisas de Deus e as coisas de César? A separação era apenas temporal, coisas eternas e coisas temporais.
Coisas temporais e eternas constituem o verdadeiro desafio da vida, para todos os seres humanos. todos sabemos, religiosos e ateus, crentes e cépticos, que tudo tem início e fim, ate´mesmo sobre o universo, aparte de toda conceituação religiosa, teve um início e tem um fim, ainda que seja longínquo em termos de probabilidade científica. Mas intuitivamente, todo ser humano e até mesmo os que se autoproclamam ateus, tem uma consciência de algo eterno, não preso as leis naturais claramente perceptíveis. A Bíblia diz que "Deus colocou a eternidade no coração do homem".Desse modo vivemos um dilema constante: tudo se esvai e deteriora mas sentimos que isso é uma contradição, não soa e não parece de fato o objetivo em si, ou seja que as coisas nascessem e terminassem desastrozamente, pois não há razão lógica para que a vida. algo tão surpreendente se esvaísse, muitas vezes de forma injustificada e estúpida.
A minissérie Sansão e Dalila da Rede Record pouco acrescentou ao que já se sabia através dos quatro breve capítulos do livro de Juizes, mas fez milhões de pessoas correrem ás Escrituras para relerem os seu registro e não poucos Estudos Bíblicos sobre a vida de Sansão e as prováveis lições foram e estão sendo exaustivamente buscados. Pessoalmente acho que as lições a partir de qualquer relato bíblico são inesgotáveis. mesmo porque a Palavra de Deus, conforme Sua própria promessa, seria ensinada e revelada a partir da ação direta do Espírito Santo no coração de cada crente. Trata-se finalmente do próprio Deus ( e isso não é de modo nenhum retórica e nem metáfora ) nos ensinando o que deseja e mostrado o que precisamos saber de fato a partir de cada relato ou registro bíblicos.
Portanto Sansão, na minha opinião, pensando mais uma vez na sua vida e experiências de conflito, é o exemplo de que, mesmo conhecendo a Deus e tendo esse conhecimento como o indubitavelmente verdadeiro em oposição a todo conhecimento que o contradiga, temos desafios reais a serem vencidos e questões desse mundo que se cruzam com questões espirituais que devam ser equacionadas e resolvidas. Diante desses muitos e complexos desafios, podemos falhar pois há uma margem de compreensão e responsabilidade que só compete a nós. Temos a promessa de toda a ajuda e revelação possíveis mas elas não são automáticas, dependem de nós e dependerão sempre. Seja no ministério ou na vida privada, no trabalho ou naquilo que podemos interferir como cidadãos em uma sociedade complexa e repleta de mazelas e virtudes ( por que não ?). De fato toda a vida que possamos viver, com maior proximidade, consciência, acertos ou erros, dependem em última instância, de nossas escolhas, sede de Deus, de conhecimento dEle, do nosso amor a Ele, do reconhecimento e gratidão por tudo que , de alguma maneira somos e temos.
O não reconhecimento desse fato, inertes por alguma teologia acomodadora que provê fechadamente uma "segurança" que de modo exato não corresponde a segurança revelada e exposta nas Escrituras conduz a letargia, alienação, presunção e orgulho inútil. Tenhamos, com a graça de Deus, a compreensão do que podemos e não podemos fazer, do que devemos fazer e do que não devermos desculpadamente sermos omissos. Superficialmente parece que o pecado de Sansão foi apenas o de origem sexual, se fosse seria o menor, mas não o de não conseguir equalizar todas as possibilidades, a de ser um verdadeiro e eficiente líder, uma verdadeira e eficiente testemunha, um fiel mordono de um dom de Deus. a real consciência do que fazer dentro do plano maior de Deus. Quantos por serem maridos de uma só mulher, fiel as suas esposas, não serem promíscuos, pertencerem a uma igreja evangélica e cristã, pensam errôneamente que não há o que aprender a partir do que a Bíblia registra sobe o povo de Israel e Sansão em sua época?
As coisas de César e as coisas de Deus constituem um desafio constante a cada um e nós. Há crentes e cristãos, pastores e padres, que são intragáveis no espaço fora da igreja da religião e das suas delegações religiosas. São pessoas horrorosas que só pessoas tão horrorosas como eles mesmos conseguem e tem algum prazer na sua convivência. Tente conversar e ouví-los sobre outros assunto fora da religião, fazer com eles um negócio, ter uma conversas sobre qualquer assunto e verá prontamente o contraste entre o que pregam, apresentam no espaço religioso e na vida privada. Assim também muitos chamados crentes e cristãos. Não é fácil ser coerente, ter uma prática naturalmente reconhecida pelas pessoas como algo pertinente a fé que professam. Ser luz, uma boa e incontestável referência, natural e não artificialmente.
E a culpa não é da igreja, da denominação, da posição teológica, do nível de conhecimento ou falta dele ( conhecimento escolar, bancário ) mas da verdadeira sabedoria advinda por um único e eficiente meio: a Palavra de Deus mediada pelo único Parácto, o Espírito Santo de Deus, Ele que veio e nos guiaria em toda a verdade, mas só se o deixarmos, se nos deixarmos sermos guiados por Ele. Coisa que aparentemente não deixamos e constantemente O resistimos em maior ou menor medida, se não estaríamos muito bem, todos nós. Não quer mais de Deus? Deveríamos honestamente querermos mais. O perigo que rondou e venceu Sansão é o mesmo perigo que nos ronda, é o desafio que se coloca todos os dias diante de nós. Como ele esteve, não poucas vezes, mesmo conhecendo as coisas de Deus nos portamos como cegos, ou pelo menos numa exemplificação mais apropriada, satisfeitos com o nosso grau de miopia individual e pessoal, na qual eu reconheço incluído. O Senhor tenha graça para com cada um de nós. Amém.
Por Helvécio S. Pereira
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