A RESPOSTA À GRAÇA NA VIDA CRISTÃ
Os reformadores protestantes desenterraram e trouxeram à luz novamente a revelação escriturística da Salvação unicamente pela Graça, perdida na institucionalização da igreja, da qual o catolicismo romano se tornou o maior poder e maior influenciador, sendo a única referência durante séculos a cosmovisão mundial. Dentre os movimentos Reformadores, os calvinistas, radicalizando a Graça pela teologia da predestinação, confirmaram a salvação a parte das obras ou de qualquer outro elemento, seja sacramentos, mediação humana ou eclesiástica, ao lado de outros movimentos protestantes e outros posteriores, algo conservado até aos dias de hoje de modo quase total, com poucas reservas. Porém os calvinistas, cuja fama de sovinas e pão duros, mesmo julgando-se seguros na eleição, não se mostraram de modo algum preguiçosos ou alheios a ações transformadoras e influenciadoras do mundo, mesmo crendo que os que não aderiam a sua fé, estariam por isso mesmo irremediavelmente perdidos.
Acumularam não poucas riquezas, poder, conhecimento e a contra gosto dos ateus e antirreligiosos europeus ou não, tiveram marcante e decisiva influência no desenvolvimento do capitalismo. Embora criticada, essa ética protestante retorna e influencia sociedades de terceiro mundo com a chamada teologia da prosperidade, que nada mais é que a pregação de que o trabalho e a dedicação a ele, sob a direção de Deus, são recompensados pelo próprio Deus imediata e decisivamente e que juntamente com as bençãos espirituais dá, aos que creem e o amam bençãos claramente materiais. Desse modo a graça uma vez crida e recebida se manifesta em todas as áreas da vida sejam espirituais ou materiais, não havendo nem uma linha divisória entre uma e outra. Para alguns essa graça se reflete em uma vida ativa e produtiva, em outros casos em presunção de santidade desprezando os demais cristãos e principalmente os não cristãos, criando uma falsa sensação de superioridade às demais pessoas, uma espécie de autossuficiência.
Graça também abrange todas a gama de favores auto reconhecidos humanamente como o poder político dos reis absolutistas, da monarquia, econômico dos grandes capitalistas, do conhecimento e revelação religiosa,etc. De certa forma todo favorecimento inexplicável passa a ser entendido como objeto de graça divina. Há, entretanto, uma outra compreensão de graça expressa como algo que se possa buscar de Deus, pela intenção, pela oração, ou pelas sensibilização divina chamando a atenção de Deus para uma situação particular e absolutamente individual. Nas prática, sempre que em situações públicas, sejam por parte de governantes, gerentes, diretores, supervisores, palestrantes, ainda que em situações seculares, comumente se fazem orações como o ”Pai Nosso” temos inconsciente um apelo a graça divina presente no ideário coletivo, de uma oração feita sem oportunidade a uma resposta pessoal por parte de Deus. Fala-se a Ele mas não se p4nsa em sua resposta, é como se a própria oração e o reconhecimento de Sua existência trouxesse automaticamente um favorecimento nessa ou naquela questão, graciosa e imperceptivelmente.
Quase nunca paramos para nos debruçarmos criticamente nessas questões, mas como espero estar sendo percebido, são absolutamente relevantes na nossa prática diária. Todo cristão, seja católico, ortodoxo, reformado, pentecostal, neo pentecostal, têm absoluta consciência da graça de Deus em certa medida em sua própria vida e no mundo. A própria vida e tudo o que a ela se relaciona é unânimamente aceita como resultado único da Graça de Deus. Entretanto a diferença se estabelece quando alinhadas certos elementos como a Salvação, uma vida cristã com elementos sobrenaturais e bençãos especificas como curas e prosperidade, como alinhadas no Salmo primeiro.
Sobre esses últimos aspectos a consciência de que ainda que dados graciosamente, se não merecidos, devam ser buscados, algo referendado por palavras do próprio Senhor Jesus e por suas palavras somos instados, admoestados, exortados a buscarmos, a insistirmos nessa busca individualmente diante de Deus. Dessa forma e sob esse aspecto, Graça é tanto aquilo que se recebe de Deus sem nossa ação intencional como o que pode ser obtido e recebido por uma ação absolutamente intencional e direcionada a questões específicas.
As implicações e repercussões não são de modo algum poucas e desprezáveis, considerando-se ( como é o objetivo de nossa reflexão ) a nossa prática cristã resultado, muitas vezes, inconsciente de uma reflexão ou conhecimento teológico organizado. Vejamos pois em um âmbito absolutamente mais prático temos os evangélicos tradicionais ou históricos e católicos romanos ( não em termos d comparação de qualidade de fé cristã mas de mecanismo ) que creem que quando o cristão crê automaticamente e imperceptivelmente ( isso é importante, sinais e evidências visíveis ) é dado ao cristão, via sacramento, profissão de fé, etc, o Espírito Santo vivendo dentro dele. Claro alguém pode asseverar muito apropriadamente que por se tratar de fé seja algo invisível e absolutamente sem manifestação sensível aos outros, a nós os que os vemos como vemos a todas as demais pessoas. Logo essa dádiva graciosa ( Graça ) é, nos dois casos, automática e independe em maior monta de algo que esse cristão faça para recebê-la. Continua a ser graça mas com essa elementaridade.
Outro grupo de crentes e cristãos, neles incluídos os católicos romanos simpáticos a certa posição protestante mais nova, creem semelhantemente aos cristãos renovados, pentecostais e neo pentecostais no sentido de crerem que embora reconhecidos como resultado da graça de Deus, outras experiências de nível mais elevado e posteriores ao recebimento da salvação, são somente obtidos pela busca, pelo desejo e pelo pedido individual do crente, ainda que esse pedido se torne mais efetivo quando aparentemente esses crentes se reúnem para esse fim. Nesse caso específico trata-se da experiência da segunda benção, reconhecida como o Batismo no Espirito Santo e o recebimento dos chamados Dons Espirituais, entre eles o da Glossolalia ou dom de línguas estranhas, de curas, etc.
Resistida pelo menos a dez décadas no Brasil pelos reformados, históricos e tradicionais mas recebidos e cridos como verdade bíblica revelada ou parte desses mesmos crentes e igrejas, dando origem em décadas em variantes dessas mesmas igrejas ( batistas, presbiterianas, metodistas, adventistas ) e dando origem a outras como Assembleias de Deus e todos os ramos pentec0stais e neo pentecostais oriundas desse mesmo tronco, todos esses crentes recone4hcem como Graça, toda a dádiva posterior a conversão, com fim de sinalizar ao mundo, aos próprios crentes e ao mundo da realidade da rica e inconfundível experiência cristã genuína.
Mesmos esses grupos, conscientes da Graça tanto para salvação como para o poder do crente se projetar nesse mundo como filho de Deus e portanto distinto das demais pessoas do mundo por uma indubitável manifestação do sobrenatural e portanto do divino, tendem mais ou menos a demarcar a sua identidade e até inconscientemente justificar a sua experiência baseados em comportamentos visíveis e construídos em suas denominações e igrejas. Comportamentos visíveis, maneirismos são forçosamente estabelecidos, indo desde o corte de cabelo para os homens, o não uso de barba ou até bigodes ( mais raramente ) e certa dose de exigência comportamental relacionados a vestimenta, cabelos, maquilagem, para as mulheres. Esse comportamento e a construção desses valores podem ser compreendidos como certo legalismo ou construção institucional de um novo legalismo, as vezes oficial, institucional ou como resultado de um inconsciente coletivo.
Como afirmado anteriormente, na postagem anterior e introdutória, o pêndulo oscila entre a chamada Graça e a Lei. Ora nos referimos ou últimos um certo aspecto legal ( que se transveste até em posições e compreensões teológicas ), ora nos refugiamos na graça que nos dá todas as coisas automática e assintomaticamente. A Graça irrestrita e confortável se manifesta na crença de ”uma vez salvo, salvo para sempre” que pode se refugiar teologicamente na crença nas várias formas de predestinação para a salvação até a crença de que o amor de Deus compreende de forma tão abrangente e compreensiva que acolherá para si qualquer que tenha a vida vivida pelo ser humano na terra, desde que tenha alguma vez de algum modo se simpatizado com a instituição religiosa, no caso a igreja, mais notadamente no catolicismo romano, na igreja anglicana e no calvinismo histórico, particularmente dos EUA e europeu. Em certos grupos como dos adventistas do 7º dia, a abolição do inferno e da eternidade de tormento dos ímpios. Concluindo essa parte, podemos dizer que uma consciência do que seja a Graça e Lei de Deus ainda que compreendida e explicitada de diversas formas, é algo perceptível às pessoas e principalmente aos cristãos em geral tendo marcante consequência tanto na organização mental de sua fé, quanto no pragmatismo diário.
Por Helvécio S. Pereira
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