A quantos porventura, casualmente acompanhem ou leiam as diversas postagens de esse blog, podem saltar a vista, como primeira impressão, um discurso contundente a certas posições tidas como absolutamente teológicas em detrimento aquilo que aparentemente certas denominações e igrejas mais contemporâneas realizam no dia a dia e que outras mais tradicionais e com aparente discurso mais coerente não realizam, por não conseguirem de fato fazê-lo, mais do que simplesmente discordar dos primeiros.
Trocando em miúdos, como diz o velho jargão, temos de um lado igrejas oriundas de classes mais populares e inicialmente desprovidas de escolaridade desejavelmente ideal, tendo impacto religioso na sociedade, com pregação questionável não só por religiosos evangélicos e não católicos bem como por classes sociais e pessoas intelectualmente mais privilegiadas, e de outro lado igrejas, ministros, membros de igrejas tradicionais com formação e conhecimento mais organizado da fé cristã-evangélica com bases históricas, bíblicas mais fundamentadas em uma teologia cristã construída através dos séculos a custa de inúmeros debates e combates intelectuais.
Dessa forma um já crente, pode optar entre um modelo de igreja e de pregação e ensino e um outro. Na prática em um ambiente coisas acontecem de alguma forma, guardadas o relativismo das experiências individuais e em outro nada acontece, também guardadas o relativismo daquilo que cada crente vivência em seu próprio ambiente e vida cristã e na sua denominação.
Já o não crente, dando ouvidos a pregação de um ou outro grupo, pode naturalmente se alinhar, tornar-se membro, de um ou outro grupo, de uma ou outra igreja, de um ou outro modelo. Mas será só isso?
Na minha opinião, a partir da observação e de uma experiência interdenominacional de mais de trinta e cinco anos, há problemas em um e em outro grupo, como parece haver uma secção e um abismo entre a prática dos dois grupos. Graças a Deus, por cada crente de um de outro, que sinceramente ama ao Senhor e que muitas vezes oferece a sua vida, o seu talento, o seu tempo, em gratidão , da melhor forma àquele que nos salvou a todos e que constitui a razão primeira e última da nossa existência, o Senhor Jesus Cristo. Oxalá uns e outros toquem, cada um a sua vida, permaneçam fiéis, e não arredem um passo que seja, nem para um lado e nem para o outro e menos ainda para trás, até o dia em que todos estaremos diante dEle, nos céus, e consolados de todas as tristezas dese mundo e completamente livres do mal para sempre.
Por agora não são poucas as críticas, as reparações, as diferenças e as inimizades, que muitas vezes só desaparecem quando todos estão sob uma mesma perseguição e oposição por parte do mundo que os odeia. Entretanto a armas de um e outro grupo parecem ser, a princípio, um pragmatismo de um lado e a teorização absoluta de outro. Os primeiros rejeitam o conhecimento teológico que a duras custas possibilitou minimamente a organização da nossa fé evangélica contra toda oposição filosófica, ideológica, pseudo religiosa e os outros, a custa de uma defesa de posições absolutas, resistem os primeiros com base em um arcabouço lógico, válido, mas muitas vezes, e isso é verdade, desacompanhados de sinais que o comprovem e o manifestem ao mundo. Tal dilema não é novo e nem tão pouco moderno quando muitos aparentemente asseveram.
Não sou contra a teologia e seu valor, sou entretanto contra o seu uso como instrumento de poder, cerceando e impedindo que uma operação mais efetiva se realize por parte da igreja, seus membros e cada crente. A minha provocação razoável e lógica aos que a enfatizam em aspectos não práticos é a realizarem da melhor maneira, maneira bíblica o que combatem nos outros o que muitos, a bem da verdade se mostram incapazes de fazê-lo e nem se sentem vexados e não o poderem e nem tão pouco mostram disposição de resolver esse também "problema teológico".
Por que igrejas e ministros,cuja fé é aparentemente teológicamente bem organizada e transparente não atingem mais pessoas, não suscitam em seu meio transformações e milagres dígnos de nota, não só entre os do nosso meio, mas que impactem os de fora? Por que suas pregações tão bem preparadas não saltam do púpito e impactam as pessoas? Por que suas igrejas não crescem? Por que alguns são tão sem sal quando convivemos com eles pessoalmente? Evidentemente tais afirmações aqui colocadas não se aplicam indiscriminadamente a todos tanto de um grupo como de outro mas constituem a mais pura verdade em muitos e muitos casos. Essas exceções e aqueles que de fato não são assim, ficam as minhas desculpas tanto em um grupo como em outro.
Digo e afirmo que conheço as respostas a cada colocação feita acima e incrivelmente o problema nunca está neles mesmos, sempre no outro. Não assim mudança, arrependimento, renovação e o impacto do Senhor fazendo algo novo e extraordinário em suas vidas. Os embates permanecem entre o que eu e o outro achamos e nunca na busca sincera pelo que o Senhor acha de nós, uns e outros.
Algo dito em outra de minhas postagens, repito só de passagem: nos quatro evangelhos, em cada um há uma ênfase diferente sobre a mesma pessoa e sua missão, ou seja Jesus Cristo e Sua obra redentora. Cada ênfase é importante só para um tipo de interlocutores e ouvintes e não tão importante para os demais.
Mateus é o evangelho para os judeus e revela o salvador e a Sua salvação com bases e aspectos só interessantes para um judeu conhecedor do judaísmo e da história e promessas dadas pelo seu Deus a seu povo unicamente. Marcos igualmente é um evangelho destinado aos romanos e o que ali é apresentado e a forma como é apresentado toca ao cidadão romano, orgulhoso de sê-lo mas, mas não incluso na promessa dada a Israel e a um judeu. Lucas, por outro lado, destina-se a elite intelectual da época, berço da filosofia e com um grau de abstração intelectual ímpar, mas também excluídos da promessa dada a um israelita. Finalmente João traz uma mensagem capaz de ser compreendida pelos demais totalmente excluídos: não judeus, não romanos, não gregos, simplesmente o resto, todos nós. Incrivelmente é dos quatro evangelhos, o mais popular através dos séculos,o de leitura mais fácil e com revelações mais abrangentes.
Os quatro evangelhos não são antagonizantes entre si, mas enfatizam e divergem na prática por focos diferentes. O objetivo é o mesmo, testemunhar através do registro histórico e quase jornalístico dos fatos acontecidos em um tão breve espaço de tempo. Todos aponta prioritariamente para a mesma pessoa, Jesus Cristo, dando-lhe a mesma importância e assegurando-lhe a mesma eficácia salvívica. Da mesma forma a teologia e a prática da igreja não podem apontar para outra pessoa e diminuir a eficácia da graça advinda do nome e da pessoa do Senhor. Dessa forma a distinção entre uma coisa e outra parece ser bem mais fácil.
Deveria a igrja preparar um bando de ministros igualmente cultos e alinhados com as melhores posições teológicas e confiar unicamente a esse bando de presunçosos ( não todos ) a pregação do evangelho que lhe conviesse pregar e ensinar? Afirmo que já tentamos e conseguimos fazer isso não poucas vezes na história da igreja ( na velha Europa e nos Estados Unidos há denominações śolidas históricamente, com seminários e doutores em divindade espalhando as piores coisas pelo mundo cristão ratificados por seus títulos e academias ). A outra possibilidade, são crentes movidos pela sua própria experiência e sem ou contra o aval acadêmico denominacional, se lançarem a prática, e espalharem entre as pessoas, quaisquer que sejam elas, a mensagem que há um Deus que opera em favor daquele que o busca e que não há limites para essa Sua intervenção, pois "para Deus todas as coisas são possíveis".
Os dois tipos de igrejas e de pregadores estão igualmente disponíveis hoje na sociedade. Ponha o pé fora de casa, ligue o rádio ou a tv, navegue na internet, seja para crer pela primeira vez ou para manter a sua fé no Senhor viva. A escolha é sua. Não há terreno seguro e opção tão fácil. Um pode despertá-lo, talvez até por métodos pelo menos estranhos, outro pode acalentá-lo em um cristianismo que vê apenas o tempo passar. Os dois lados tem virtudes e problemas. Os dois são igualmente inúteis se você não tem comunhão com o seu Deus, com o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Não ponha a culpa neles, nem nas igrejas, nem nos pregadores de um ou outro grupo. Os sinceros parecem fazer o melhor que podem e você?
Em que consiste, de fato a sua vida cristã? Conhecimento? Experiência? As duas coisas? Manifestação do poder e intervenção divinas? Apenas uma compreensão organizada e aparentemente lógica do que Deus é , quem seja, e o que pode, quer ou não fazer? Que impacto tem em sua própria vida e na vida dos que estão ao seu redor e que dependem em maior ou menor grau da Sua experiência que antecede a deles? O seu modo de ver e compreender as coisas e o mundo a sua volta, esclarece ou dificulta ou até impossibilita a experiência e conhecimento por parte deles do Deus que representa a única salvação para as suas almas? Há uma "qualidade de vida cristã" única a ser aceita ou o encontro pessoal com o Senhor Jesus que é realmente a única coisa que conta finalmente?
A teologia pode ser boa mas não deve anteceder a uma experiência de conversão ao Senhor e não deve, de modo algum, após essa experiência ser algo, um elemento agora que agregado à vida cristã, e a possibilidade injustamente distribuida, a intelectual, ser um elemento agregador de qualidade espiritual em substituição a graça de ser salvo e de conhecer e ser amado pelo nosso único Senhor e Salvador, o Senhor Jesus. Amém.
Por Helvécio S. Pereira
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