Você possivelmente não irá gostar muito das reflexões seguintes, mas elas além de não serem nenhuma novidade, não se tratam de uma reinvenção da roda, ou descoberta de alguma novidade, mas algo absolutamente apresentado em toda a Escritura desde sempre.
Simplificadamente há duas teorias, compreensões diferentes acerca da realidade:
A primeira ( não por ordem de importância ou mesmo histórica, mas a título de comparação somente ) reza que tudo ( tudo mesmo das grandes e decisivas coisas as menores ) foram previamente determinadas por Deus antes de tudo, no princípio, e que sempre, agora e no futuro qualquer apenas se cumprem.
A segunda ( também dita de modo simplificado ) é que embora Deus tenha fixado objetivos ( sua criação é inteligente e portanto nunca desprovida e alienada de princípios e objetivos - Jesus mesmo afirma de Si mesmo ser Ele, o Princípio e o Fim de todas as coisas ), esse mesmo Deus dialoga com as Suas criaturas e há portanto um nível de resposta possível, pela qual Deus conduz o seu diálogo com o homem e com todas as criaturas autônomas e inteligentes criadas por Ele mesmo.
Não são poucos os problemas com uma e com outra posição, mesmo porque a nossa natural limitação de refletirmos sobre as coisas de Deus é de fato um primeiro problema. Outro ponto é que Deus sempre sabe algo ( não só uma coisa, mas infinitas coisas ) que escapam a nossa capacidade de apreensão e portanto com esses dados ou elementos faltantes sempre chegaremos a conclusões distantes da realidade absoluta.
Há ainda o fato de que nem necessitamos decididir por uma delas exatamente pois não têm peso ( nenhuma delas ) no nosso relacionamento pessoal com o nosso Deus. Você acha sinceramente que Abraão, um dos melhores e maiores exemplos de comunhão intimidade com Deus, seria mais próximo de um calvinista ou de um arminiano, ou de um "assemelhado" ( estou tentado a aceitar o enquadramento sugerido por um irmão em um comentário ). Evidentemente que não. Um teólogo moderno pode ter "todas as respostas" mas não tem o mesmo nível de intimidade que Abraão teve com Deus na sua vida.
Mas vamos a Bíblia, as Escrituras. Há alguns relatos nas Escrituras que passam facilmente desapercebidos e dois deles são exatamente os seguintes:
Em Gênesis 3:8 lemos:
E ouviram a voz do SENHOR Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do SENHOR Deus, entre as árvores do jardim.
O relato acima é parte do registro do homem após a queda, antes de serem confrontados por Deus e terem revelada a sua desobediência. Notemos que Deus, o Senhor , passeava no Édem pela viração do dia. Pensemos que o Deus que fez todas as coisas e a todas conhece não necessitaria realmente de deixar os céus, vir a terra, ao jardim criado para habitação do primeiro casal de humanos para saber o que tinham ou não feito. Sob esse aspecto não haveria razão lógica para isso. A resposta então pode ser a seguinte: para se relacionar com o homem e a mulher, não para saber ( o que Deus sempre saberia ) de como estavam e o que faziam, mas para pessoalmente oferecer-lhes a oportunidade de se mostrarem a Deus.
No caso do relato em questão, a sua situação de queda, ambos se escondendo, Adão negando a sua culpa e atribuindo-lhe essa mulher e a Deus que a deu a ele, Adão. É evidente e quanto a isso não há dúvidas, de que os dois, Eva e Adão, não foram bons exemplos em nada e não achamos facilmente uma qualidade desejável em ambos, nem antes da queda e nem depois.
Dos filhos que tiveram, os primeiros Abel e Caim, sabedores sobre Deus, esses sim manifestaram uma diferença sutil, diferença patente nas ofertas apresentadas ao Senhor. Abel teve a sua oferta aceita por Deus e Caim rejeitada por Deus. Mas não fora só isso, a atitude interna de Caim e Abel já eram diferentes e houve consequências. O rancor e a inveja de Caim o levaram a uma ação: eliminar o seu irmão, como se isso por si resolvesse o problema da incompatibilidade entre o seu pensar ( de Caim) e o pensar de Deus.
Se nos perguntássemos de quem Deus tinha alguma referência, a resposta unânime seria por Abel e não por Caim. Caim poderia em tese agir diferentemente? Sim,a resposta é dada pela própria Bíblia, aliás pelo próprio Senhor Deus:
Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante.
E o SENHOR disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?
Se bem fizeres, não haverá aceitação {ou remissão} para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás.
( Gênesis 4: 5-7 )
Após o assassinato de Abel Caim é inquirido novamente por Deus ( é evidente que Deus não necessitaria para sabê-lo de perguntar algo a alguém, nem a Caim ):
E disse o SENHOR a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?
E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
( Gêneis 4: 9 e 10 )
Outra situação é exatamente em Babel. Lemos na Bíblia:
E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.
E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali.
E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal.
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.
Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;
( Gênesis 11:1-5 )
Novamente o Senhor vem a terra para observar o que os homens faziam, e novamente é importante lembrar, que o fato do Senhor "descer" ( de Sua habitação, de Seu lugar ) não é de forma nehuma para encurtar a distância e ter um a"visão" melhor do que os homens faziam ou como se comportavam. Cada vez que o Senhor se aproxima ( não se revela ) do homem é para oportunizar uma resposta e um efetuar um julgamento. Foi assim no Édem, fora do Édem com Caim e novamente em Babel.
Não é tão possível discorrermos sobre tantos outros fatos encontrados e narrados nas Escrituras, mas trata-se de um modelo. As pessoas que Jesus curou e com as quais se encontrou, os fariseus e os que não creram que foram confrontados em seu erro e em tantas situações. A realidade, de fato, não parece ser, e não é engessada, fixa. Cada caso é tratado como um caso único e o seu desfecho é sempre baseado no perfeito julgamento de Deus, inerrante. A realidade não é uma encenação de um roteiro fechado sem a participação de Suas criaturas. O temor de Deus se tornar refém de Suas criaturas e ser daí um "deus menor" é infundado, pois essa interrelação é claramente descrita; " o meu Espírito não contenderá pra sempre com o homem", entendendo que , na sua misericórdia , contenderá por um tempo, graças a Sua longaminidade. "As misericórdias do Senhor, não têm fim, se renovam a cada manhã".
Sob esse ponto de vista, Deus tem mais prazer com alguns do que com outros,por suas respostas a esse estado e relacionamento com Deus. João era mais amado do que todos os demais apóstolos, Pedro o mais íntimo, o mais conversador com o Senhor, Judas o mais arredio, distante e destoante, incluindo as relacionadas às próprias ações do Senhor. A traição de Judas foi apenas o desfecho de um longo processo de distância e dissonância com o Senhor Jesus ( Deus conosco ) e não um ato isolado de ambição ou covardia.
Do mesmo modo, nós como cristãos, como crentes evangélicos, sob a custódia de um cristianismo renascido da grande Reforma Protestante, podemos ser agradáveis a Ele ou profundamente desagradáveis, amados e íntimos ou apenas suportados ou até mesmo estranhos a Ele. A graça do evangelho nos inclui e nos apaga o passado, mas não o presente. Ninguém pode aceitar, crer e professar fé no Evangelho e viver dissoluta e contra o que Deus pensa e tem prazer.
Uma igreja pode cantar todos os hinos tradicional e históricamente aceitos., ter a sua liturgia e reunião o mais próximo do que é corretamente feito, sua declaração de fé pode ser baseada nos mais tradicionais e respeitáveis conclaves eclesiásticos históricos, seus ministros podem ser os mais doutos e respeitáveis nos círculos teológicos, ela pode ter respeito e reconhecimento seculares, influência e poder, mas pode mesmo assim se encontrar na mais franca contra mão da vontade de Deus e cada um de seus membros individualmente, a despeito dela mesma, podem ser cada um pessoas agradáveis a Deus ou não.
Algumas doutrinas soam muito agradáveis ao ouvido das pessoas:
"Uma vez salvo , salvo para sempre" N/ao é isso que a Bíblia deixa transparecer. O que as Escrituras revelam é que:
Da parte de Deus estamos seguros, Ele jamais nos deixará e nada e ninguém pode nos arrebatar de Suas mãos. Contudo devemos nos manter ligados a Ele, e nunca o deixarmos.
Alguém pode asseverar dizendo: mas essa não é uma segurança total. Sim Ele é total unilateralmente, da parte de Deus. Ele é Fiel e não falhará conosco, contudo cada um de nós tem que se mostrar fiel a Ele.
"Predestinado para a salvação". Deus o viu, gostou de você sem motivo e predestinou. É quase petulante. Por que não o outro, tão pecador ou até menos que você?
As Escrituras claramente mostram que os "eleitos" e os "predestinados" o foram para algo específico: Maria (?) João Batista ( certamente ); Moiśes ( no AT ). Outros o foram no processo: Paulo ( Saulo - não há nenhuma profecia sobre a sua conversão e ministério- o maior dos apóstolos, o organizador maior da igreja cristã, não teve nenhuma menção sua em toda a Escritura antes da sua conversão ). Alguns reis pagãos como Ciro, Dario...
Você pode dizer, agora me sinto mal, se de fato aceitar a negação da predestinação e da eleição nesses termos. Para você que é salvo não muda nada se a sua certeza se baseia em um amor real ao Senhor. Muda entretanto na sua pregação as demais pessoas. Você olha para uma multidão e pensa: " alguns desses são predestinados e portanto serão salvos haja o que houver e para outros não há chance alguma, façam o que façam." Mas com certeza dirá: "Deus manifesta o Seu amor a todos nós, todos podemos aceitá-lo e escolher amá-Lo e serví-Lo, basta querer, crer, aceitar essa verdade e amá-Lo e serví-Lo."
Essa é a diferença, a grande diferença. E durante toda a caminhada cristã, mais próximo será dEle, mais íntimo, aquele que recebido pela graça, agora o agradá-Lo mais, fizer e ser cada vez mais segundo a Sua natureza. Alguns de nós verdadeiramente, são mais amados pelo Senhor sim, e outros menos sim. Isso pode não ser agradável, mas é o que as Escrituras deixam claro em todo o tempo.
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