Um rápida visita a sites e blogs cristãos e particularmente evangélicos, e a constatação de uma profusão de informações, notícias, mensagens, exortações, novidades, estudos, debates, enfim um leque tão heterogêneo, quanto contraditório e descompromissado com os efeitos causados ao visitante, quem quer que seja. Confesso que a despeito da benção da web e da internet como ferramenta e e meio de comunicação e de contato entre pessoas, que de outro modo estariam tão separadas e impedidas de se comunicarem, se eu tivesse conhecido a Jesus nos dias de hoje, não tenho certeza que todo esse volume de elementos agregados a religião cristã, fariam bem à minha fé.
Criei um blog a alguns anos, pois trabalhando como professor em novas tecnologias para educação, ensinava as pessoas a fazerem seus próprios blogs, no caso professores e agentes de informática que trabalhariam junto a crianças nas escolas, e aí testando ferramentas e criando um blog próprio criei um blog, reativado recentemente, o Contando os Nossos Dias ( clique aqui e acesse-o, mas leia esse texto até o fim primeiro ) , depois dois blogs , um sobre Artes e outro sobre televisão, os quais juntos em menos de três anos tiveram mais de 180.000 visitas. Só me animei a postar falando das coisas de Deus, primeiro como registro de minhas reflexões para mim mesmo, ( parece pleonasmo mas não o é, de fato, blogs são um registro, um diário de tudo o que fazemos ou dizemos sobre nós mesmos ) e depois para os outros, tornando público algo privado, com o cuidado de não ser tropeço, mas bênção para os meus leitores. Isso só se deu, pelo simples fato, de receber quase que diariamente algum e-mail, com as últimas postagens do meu irmão em Cristo e amigo de muitos e muitos anos, o Jorge Fernandes Isah, no seu blog Kálamos ( Clique aqui e leia um excelente texto sobre a graça de Deus )
Embora ele, o Jorge, calvinista, determinista bíblico e batista, e eu segundo ele e seus amigos, arminiano, batista ( e quem não o é hoje? ), e pragmáticamente neopentecostal (na verdade estão pesquisando para ver em que classe de cristão eu me enquadro ), tendo nós dois alguma ou outra posição divergente, o seu blog, que faço questão de acompanhar sempre, e que segundo ele, ele o Jorge, dá uma espiada na minhas postagens, mesmo sabendo a minha posição, o blog dele ( o Kálamos ) é uma excessão, um oásis no desastroso, para não usar uma palavra que escape ao vocabulário esperado de um crente, mar de coisas desastrosamente irresponsáveis assinadas e tutoriadas por crentes que querem, aparentemente, trazer alguém para a luz da salvação em Cristo.
Não falo de esconder o sol com a peneira ou varrer a sujeira para debaixo do tapete. Falo de bom senso, de educação, de responsabilidade com o que se diz, de amor para quem vai ler ou ouvir. Coisas óbvias que um adulto deveria perceber e aprender sem que alguém lhe ensine. Guardadas as relações e proporções, é a mesma atitude irrecomendável e injustificada, de um homem perguntar a uma jovem se ela é virgem. Não que a pergunta não possa ser feita, mas a razão de ser feita é inteiramente inapropriada. Não ajuda nada no que se queira construir de bom, seja numa sadia amizade ou compromisso futuro. Fere, ofende, gera mal estar, cria uma barreira. Da mesma forma o que lemos e vemos em muitos sites e blogs, coisas ditas e repercutidas até por ministros, pastores, é algo de uma tremenda falta de bom senso e sobretudo falta absoluta de amor ao próximo, amor a quem vai ler e saber do que está sendo dito, na maioria das vezes longe, bem longe de ser edificante, em nome de quê? Do bél prazer de dizer apenas.
A Bíblia é a Palavra de Deus, e se alguém não a reconhece como tal, perde sem dúvida, o modelo, a forma como Deus pensa, ficando somente com o modelo, a forma humana de pensar, o que na minha opinião, trata-se de uma perda irreparável. Um ateu pode ser culto, ter tido a melhor educação, e sobre a sua erudição conseguida afortunadamente, só consegue, no máximo, desenvolver uma lógica humana de comparação, de análise, de discurso, de cosmovisão, portanto limitada e contraditória. Nunca irá além do seu próprio modelo mental. Nunca saberá o que de fato tem perdido no seu isolamento e na sua autosuficiência.
Os textos bíblicos, entretanto, podem cair numa inutilidade desastrosa, não por culpa de Deus ou da impotência de Sua Palavra eterna, mas pelo uso errôneo. A grande utilidade da Palavra de Deus na vida do homem não é a informação enciclopédica, de estar lá todas as respostas e indagações ( muitas estão e outras decididamente foram omitidas pelo próprio Deus ) mas pela sua propriedade de nos mover, nos inspirar, de nos iluminar, de fazer nascer em nós, novas disposições e possibilidades.
Essa experiência é impagável, inigualável, e quem já a experimentou ou vivenciou de fato, sabe o que estou dizendo. O uso e leitura da própria Escritura destituído dessa intencionalidade, é constatado diariamente: eruditos, religiosos profissionais, a cujas pessoas, muitas vezes, não faltam as melhores formações e treinamentos, seja no que se refere a história bíblica e geral, o conhecimento das línguas originais ( fluência em grego, hebraico, latim, etc.), as doutrinas cristãs organizadas durante toda a história do cristianismo, a pratica e os serviço religioso denominacional e ministerial, mas a cujos corações Deus não lhes fala mais, se lçhes falou algum dia de fato, e cuja leitura dos textos conhecidos e gastos, após décadas de dedicação e estudo, a eles parecem não ter o menor sentido frente ao mundo, a vida, e às angústias e dilemas pessoais. Que terrível!
Pregadores eruditos e preparados, cujos sermões se assemelham mais a defesa de teses doutrinárias ou aulas acadêmicas sobre a Bíblia e suas histórias. Que terrível, que desastre! O conhecimento é desejável e deve ser buscado por todo aquele que pode e tem oportunidade, de dele tirar o melhor proveito, isso é algo pleno e inquestionávelmente legítimo. Porém sozinho é nada, constitui-se apenas num discurso vazio e retórico, uma metáfora sem poder, sem prova de que seja a verdade, se igualando e sendo plenamente rivalizado, por qualquer discurso religioso-filosófico, a ele se mesclando e sendo por ele trocado e ultrapassado.
Mas como a Palavra de Deus pode operar em nós? Qual a sua real e verdadeira serventia?
Bem se você ler toda a Bíblia atentamente, se debruçar em estudar lições bíblicas em revistas e livros para Escolas Dominicais, fazer uma série de Estudos Bíblicos frequentando reuniões específicas para tal em alguma igreja, fazer algum curso bíblico por correspondência, devorar livros e mais livros em livrarias evangélicas, ler postagens em um número enorme de blogs, fazer um curso que o gradue em algum seminário, concluir alguma especialização em Cartas Paulinas, Teologia do Antigo Testamento, Línguas Bíblicas, etc, por exemplo . Ou seja, dedicar os próximos anos de sua vida em aprender o máximo relacionado à religiosidade evangélica e às Escrituras judaico-cristãs, mesmo assim não significará garantia alguma do conhecimento da vontade de Deus e a aplicação da mesma em sua vida. E isso não é um discurso, uma posição e uma opinião apenas. Pode até ir-se mais a frente e se tornar um ministro em tempo integral, um religioso profissional, que case as pessoas, as batize e vá o enterro das mesmas e de seus parentes, ano após ano. Que dê entrevistas, escreva artigos, expresse a sua opinião quando for requisitada, tenha o reconhecimento social de sua sapiência e importância acadêmica e religiosa, e até ensine sobre a Bíblia, a igreja e a fé cristã pregando em algum púlpito em dias designados, a grandes e pequenas pratéias, recomendado e finaciado pelos seus patrões religiosos. Se jamais fora tocado por Deus de modo inescusável, se nunca houve um antes e um depois miraculoso, se nunca sentiu uma intimidade graciosa com Deus e nunca compartilhou os Seus pensamentos, ( quem experimenta isso, seja de qual igreja for sabe que eu estou falando ), você precisa ter esse marco zero na sua vida hoje mesmo.
A Palavra de Deus, a Bíblia nos inspira, somente quando um texto seu é gravado em nosso coração sem passar pelo nosso julgamento presunçoso. Não estou afirmando que a Bíblia deva ser lida e rezada, repetida sem que a entendamos, como o Alcorão é recitado no Islã, sem a obrigatoriedade e a possibilidade que o fiel o compreenda. Não. Significa apenas que mesmo aplicando a compreensão quando se lê parte da Sagrada Escritura, há humildade diante dela, e o reconhecimento que a visão e opinião de Deus é superior a minha. Dizem as Escrituras: " No princípio criou Deus os céus e a terra" ( Gênesis 1:1) É evidente que não sei como Ele o fez exatamente, mas aceito que Ele o fez. Assim com as demais declarações bíblicas, creio nelas e as aceito como voz de Deus ao meu coração.
Além disso, cada passagem, cada história, cada fato, cada dilema humano registrado na Bíblia, a cada dia fala a mim, e lança luz as trevas dos meus desafios contidianos. Por isso as Escrituras não são, na prática, um livro que uma vez conhecido, esgota-se a sua mensagem e a sua plena potência de causar, de efetivar, de realizar algo no mundo real, particularmente na vida de que a lê. Pela iluminação divina, se compreende e torna-se capaz de por em prática a sua mensagem. Dessa forma um texto conhecido e gasto pelo hábito de ser tão recorrente, sempre terá a capacidade e o poder de lançar novas luzes as minhas, as nossas trevas diárias.
Muitos supõem por extensão que a sorte esteja totalmente lançada, que tudo já esteja determinado, mas o fato é que a realidade se divide por inumeráveis categorias, muitas vezes escapando a nossa capacidade de reconhecê-las estanquemente. Nascemos homens ou mulheres e como tal, um dia nos damos conta que irresistivelmente devemos encontrar um parceiro do sexo oposto, que inevitavelmente pessoas sadias farão sexo, legitima ou ilegitimamente. Ir contra isso transforma em um desastre gerando toda fonte de pecados sexuais ou a solução desse problema das formas mais desastrosas possíveis. Entretanto escolher a parceira ou parceiro dentro de condições culturais, físicas, e de afinidade pertence a outra categoria, a individual. Esse é apenas um dos muitos exemplos possíveis, que por economia de tempo e de espaço não os listaremos. Por que disse eu isso? Exatamente por que aí opera o poder da Palavra de Deus para os que ouvem. Ela produzirá algo previsível para Deus, conhecido para Deus, mas algo a partir únicamente do homem como resposta a inspiração causada por Sua Palavra. A Bíblia como Palavra de Deus cria algo em nós a cada vez que a ouvimos e isso não é retórica religiosa, eu afirmo novamente e faço questão de destacar essa particulariedade da Plavra de Deus, da Bíblia, das Sagradas Escrituras.
A Bíblia diz que "Deus é Espírito e que os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e em verdade."
e que "Deus procura esses adoradores". Ora se tudo estivesse determinado bastaria fazer os adoradores que Ele deseja, ou melhor já estariam prontos, não seria necessário procurá-los. Não, de outro modo, a Palavra de Deus é proclamada e espalhada no mundo, e a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. E muitos respondem produzindo a verdadeira adoração. Então Deus os procura e acha e tem prazer neles. Teólogos que investigam a Bíblia fazendo um trabalho legítimo e útil a obra de Deus, se virem a Bíblia apenas como objeto literário e produto cultural histórico, jamais experimentarão tal coisa. Santo Agostinho talvez seja o melhor exemplo, além de teólogo, estudioso, tradutor das Escrituras se debruçou sobre a Sua mensagem, dedicou-lhe a vida, usando toda a condição que a riqueza herdada no mundo legitimamente lhe possibilitasse perscrutar as grandes verdades de Deus, não em tempos de reforma protestante ou pós mesma reforma. Não em tempo de renovação carismática ou pós ela, não em tempos de neopentecostalismo ou pos neopentecostalismo.
De forma que a única possibilidade da Bíblia nos falar e a Sua verdade se tornar a realidade efetiva em nossas vidas individuais, é ouvindo-a como a Voz de Deus, quando a lemos. E não menos que isso, onde estivermos, ligados ou comungando com que grupo de religiosos cristãos estivermos. A única legitimidade da vida cristã é a comunhão com Deus em Jesus, nada mais e nada menos. Se não ouve Deus falando ao seu coração, algo estádefinitivamente errado, muito errado. Se ouve apenas a sua própria voz, a voz do conhecimento de homens, ainda que legítimo e útil, você precisa urgentemente que o véu do templo de rasgue, e você tenha acesso ao Santo dos Santos. Você deve entrar pela porta que é Jesus, sair por ela ( Ele ) e encontrar pastagens verdejantes.
Nenhuma igreja garante essa experiência por si mesma, nenhuma denominação, nenhum pregador, nenhum padre ou pastor. Trata-se de fato, da experiência primeira e primordial, a única que destapa os ouvidos e fazem com que comece a ouvir a direção de Deus. Não negue o lugar da igreja local, da denominação ou ministério. Em várias igrejas pessoas vivenciam essa maravilhosa experiência pela primeira vez em suas vidas todos os dias. Tentar ser cristão sem a tê-la é um terrível engano, um engodo, e certamente a esses podem ser as palavras daquele dia: " Nuca vos conheci, apartai-vos de mim". O verdadeiro crente não é um homem ou mulher perfeito, em um religioso na acepção da palavra, mas alguém que pela graça tem intimidade com Deus. Ouve Deus falando consigo ( e isso não retórica ) e sente que Deus o ouve e o vê. Todas as suas coisas estão nuas diante de seu Deus e ele nada as esconde dEle. Sua dependência dEle ( de Deus ) é total, irrestrita, e em muitas vezes uma aparente loucura, vista pela perspectiva do mundo. "E outra vez vereis a diferença entre o que serve a Deus e o que não serve". Tenhamos todos essa maravilhosa experiência, quase indescritível com palavras, de sermos sensíveis à Palavra de Deus. A qual nós que a vivenciamos em algum momento da vida, somos eternamente gratos. Amém.
Nenhuma igreja garante essa experiência por si mesma, nenhuma denominação, nenhum pregador, nenhum padre ou pastor. Trata-se de fato, da experiência primeira e primordial, a única que destapa os ouvidos e fazem com que comece a ouvir a direção de Deus. Não negue o lugar da igreja local, da denominação ou ministério. Em várias igrejas pessoas vivenciam essa maravilhosa experiência pela primeira vez em suas vidas todos os dias. Tentar ser cristão sem a tê-la é um terrível engano, um engodo, e certamente a esses podem ser as palavras daquele dia: " Nuca vos conheci, apartai-vos de mim". O verdadeiro crente não é um homem ou mulher perfeito, em um religioso na acepção da palavra, mas alguém que pela graça tem intimidade com Deus. Ouve Deus falando consigo ( e isso não retórica ) e sente que Deus o ouve e o vê. Todas as suas coisas estão nuas diante de seu Deus e ele nada as esconde dEle. Sua dependência dEle ( de Deus ) é total, irrestrita, e em muitas vezes uma aparente loucura, vista pela perspectiva do mundo. "E outra vez vereis a diferença entre o que serve a Deus e o que não serve". Tenhamos todos essa maravilhosa experiência, quase indescritível com palavras, de sermos sensíveis à Palavra de Deus. A qual nós que a vivenciamos em algum momento da vida, somos eternamente gratos. Amém.
Por Helvécio S. Pereira
Helvécio,
ResponderExcluirsabe que tenho a honra de ser seu amigo [por muitos anos] e irmão em Cristo [há pouco tempo, dada a minha recente conversão... 06 anos... nem tão recente assim]; e os seus elogios mostram que é possível haver comunhão, respeito, e, sobretudo, o desejo de glorificar a Deus mesmo quando temos divergências teológicas. Contudo, o amor que nos une é o amor de Cristo, pois se fosse o nosso, humano, imperfeito e nem sempre "amoroso", provavelmente teríamos sérios embates.
É claro que nada disso aconteceu da noite para o dia. Eu era turrão as vezes, mal-educado em outras, ríspido também, mas Deus tem colocado irmãos que muito me têm orientado a tratar de assuntos complexos e difíceis com calma, sem abrir mão das minhas convicções. Uma coisa é convicção, e manter-se firme, assim como estamos firmes na Rocha, Cristo. Outra coisa é agredir e fazer da nossa atitude escândalo para o nome do Senhor.
Quanto ao seu texto, sabe que concordo com muitas coisas, nem tanto com outras. Mas o meu objetivo ao vir aqui não foi discuti-las mas agradecer a deferência que me fez e que faz, vez ou outra em seu blog. E mostrar que é possível ter-se comunhão, mesmo que nos detalhes não concordemos [e não estou desqualificando-os nem tirando-lhe a importância].
Mais uma vez, obrigado.
Grande abraço, meu irmão!
Cristo o abençoe!