O cristianismo como religião abraâmica, ou seja cujas raizes remontam a experiência única de um homem chamado Abrão com o Deus criador de todas as coisas, que um dia lhe diz em alto e bom som, que ele Abraão deve sair da sua terra e do meio de seus parentes e seguir em direção a uma terra em que Ele, o Senhor, lhe mostrará. A partir daí a formação de um povo, de uma cultura, o repositório de uma revelação e o relato original das origens dos céus e da terra chegam até nós, a promessa de um Salvador, e tudo o mais que sabemos hoje.
Curiosamente, esse Deus abraamico, criara os céus e a terra, de modo diferente das concepções tidas como pagãs, onde todas as coisas de originam de um estado caótico, e de um grande conflito entre duas forças rivais e opostas. O nosso Deus criou todas as coisas por seu próprio capricho e desígno. Nada e absolutamente ninguém lhe fez algum tipo de imposição ou restrição. Curiosamente também a descrição bíblica do grande cenário da existência descreve um grande, original e infindável conflito. Conflito esse descrito detalhadamente e exposto como uma doutrina nas Escrituras judaico-cristãs.
O grande período que se estende desde algum ponto antes da criação da humanidade, toda a sua história, e finalmente o seu fim como a conhecemos na terra, tem um único enredo, em em torno de um único dilema, a vitória do bem sobre o mal, em todas as suas formas e manifestações. No meio desse conflito há o ser humano, ora como vítima e ora como algoz, pendendo ora entre o bem cuja fonte indubtávelmente é Deus e o mal cuja fonte é Satanás.
Deus em toda a história tem ações que fatalmente conduzirão não só a supremacia, a vitória do bem sobre todo o mal, mas o testemunho diante de todas as criaturas de que o mal por si só provou ser aquele que estava errado em todo o tempo. Ou seja, Deus não se impõe simplesmente aniquilando o mal, mas expondo-o e provando a sua ineficácia e malignidade.
A grande e legítima questão, é se o mal tem uma origem e uma atuação autônoma e como conciliar esse fato com a chamada soberania de Deus. Como Deus sendo absoluto e grande, acima de todas as coisas mensuráveis e imagináveis, pode ceder espaço a algo muito menor que Ele mesmo? Por outro lado se não há possibilidade de nenhuma autonomia por nenhuma outra das partes, Deus como único ator, "faz de conta" que os outros tem alguma ingerência nesse conflito. Ele, o perfeitamente Santo e Bom é também o que produz o mal, a perversidade, a morte.
Não é necessário saber detalhes em profundidade desse grande conflito, embora as Escrituras tragam , revelem não poucas coisas sobre ele. Somos informados que Ele existe e que tal consciência não pode ser omitida. Somos exortados a escolher o que é certo, justo e louvável e seguirmos se possível sempre, a natureza daquele que todas as coisas criou. Sempre que a humanidade se afasta desses desígnios colhe os frutos do desastre, da reprovação, da condenação e do castigo. Mesmo no âmbito pessoal não ficam impunes os que deliberadamente se opõe as coisas de Deus e produzem idéias e desígnios contrários aos que Lhe seriam agradáveis.
Curiosamente a despeito de implicações não tão razoáveis, alguns insistem em desprezar essa realidade, que nem é a melhor, a mais agradável, mas a apresentada em toda a Bíblia: homens se rebelando contra Deus, ignorando-o, desafiando-O até e um outro agente de natureza espiritual, Satanás, circulando entre os homens e inspirando-os a toda a sorte de perversidade, corrompendo-os, enganando-os, sujerindo-lhes as mais bizarras atitudes, incluídos aí, até mesmo não poucos aspectos dentro da própria igreja cristã.
Deus o criador de todas as coisas, é Senhor de tudo e absoluto na regência de todas as coisas. Entretanto a Bíblia nunca escondeu, ou antes revela que esse conflito existe, com permissão divina a todo o momento, em todos os lugares, menos no céu. Jesus disse que Satanás reclamou cirandar a Pedro como trigo em uma peneira e que o mesmo Satanás entrou em Judas Iscariotes para levar a termo o que fêz. A mesma Bíblia nos mostra que o cenário desse conflito é dinâmico e novos atos dentro de um roteiro maior são implementados a cada dia, por ação do próprio Senhor, do homem e de Satanás.
Ao homem cabe achegar-se a Deus, resistir ao Diabo, pedir sem cessar, insistir como na parábola do juiz iníquo, impor a vontade de Deus pelo poder do nome de Jesus Cristo a cada situação. Todas as probabilidades estão em aberto. Daí igrejas e crentes que olham apenas para o passado ou para um futuro distante são inoperantes no presente e sua atuação no mundo é inóquoa. Reivindicar cura para enfermos, expulsar demônios, mudar situações reais, enfim operar maravilhas além de ensinar as Escrituras, modificando o quadro real a sua volta é o desafio do crente que compreende a realidade desse grande conflito. Diferente disso será apenas mais uma faceta cristã inoperante, que não modifica absolutamente nada a sua volta e nem tão pouco no âmbito da própria vida do crente.
Ainda terrível é o fato de que nesse vasto e amplo cenário, podemos cada um de nós, nos travestir na personagem, ainda que culturalmente cristã, que mais nos agradar, que melhor nos convier. É bastante provável até, que gastemos cada um de nós, a nossas vidas ocupados com um cristianismo que nos convém, sem sabermos se estamos ou não atuantes e no lado certo, desse grande conflito. As possibilidades são realmente grandes: não basta ser pastor, de qualuer denominação ou igreja, não basta pregar ou ensinar, cantar, tocar, escrever livros, faze confererências, dar aulas em seminários teológicos, ou ao contrário disso tudo ser de conhecimento bíblico medíocre, pertencer ou se alinhar a uma denominação pentecostal ou neopentecostal, ser de uma pequena denominação sem história e que todos fazem piada dela, ou ser de uma denominação histórica e representativa. Infelizmente nada é tão fácil. Se não buscarmos a Deus de todo coração só satisfazendo-nos em conhecê-Lo e a Sua vontade e a serví-Lo nesse grade conflito, estaremos perdidos fazendo várias coisas sem atinar como que é principal e decisivo.
"A quem enviarei e quem irá por nós" deveria rebombar em nossos ouvidos as palavras do Senhor ouvidas pelo profeta Isaias. Uma reunião com cânticos, com pregações sobre um ou outro texto bíblico, orações e tapinhas nas costas ao final da reunião não são coisas ruins, mas não constituem tudo. São apenas oportunidades para porventura ouvirmos a voz de Deus. Mas quantos a ouviram depois de anos ou décadas? Alguns ainda defendem que "não de deve deixar tais congregações". Claro que a culpa não é da congregação em questão, mas pode ser que aquela igreja local, aquela denominação não queira se mover para lugar nenhum e não tenha a mínima sede de aprender mais de Deus. Pode ser que todos ali só olhem para o passado ou para o futuro distante, o fim dos tempos, e o presente? Qual deva ser a nossa atuação a nível espiritual e concreta nesse mundo? Continuaremos a discutir detalhes sem ter o que apresentar e concreto ao mundo em nome do Senhor? Os sinais da grande ordenança do "ide"encontrada registrada no último capítulo do evangelho de Marcos fazem parte de nossas vidas ou constituem apenas teoria e retórica? São as obras de Satanás destruídas pelos crentes e os planos satânicos derrotados a cada dia na sociedade a nossa volta ou os crentes se mostram impotentes, nos seus guetos religiosos, batendo boca por questões internas e que nenhum impacto têm no mundo? Pensemos nisso.
Por Helvécio S. Pereira
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