Para aqueles que eventualmente acompanham minhas postagens ou dão de cara com uma delas, pode parecer que sou um cristão anti-teologia e anti teólogos, o que não sou. A teologia tem o seu lugar, importância, faz diferença na organização da genuina fé cristã, o que não descarta o seu mau uso, a limitação imposta ao crescimento do crente e até a mais sutíl cegueira espiritual, mesmo para o cristão.
Embora, rapidamente, gostaria de fazer uma reflexão acerca do DOGMA, da DOUTRINA e da OPINIÃO ou simples posicionamento.
Primeiramente DOGMA se refere a questões mais cruciais relativas a fé cristã. Eis alguns exemplos:
Maria como co-redentora, mediadora para a teologia católica é um dogma. Jesus Cristo como um deus com "d" minúsculo para as Testemunhas de Jeová, é um dogma. Alá, o Deus do Islã, é o mesmo Deus do Judaísmo e do Cristianismo, mas o fato de não ser trino, a impossibilidade de ter um Filho, com "F" maiúsculo como é Jesus Cristo o Filho de Deus, é um dogma.
As pessoas ao se filiarem a uma igreja cristã deveriam conhecer o seus dogmas, o que geralmente, na grande maioria dos casos são coincidentes principalmente acerca de Deus, de Jesus Cristo, do Espírito Santo. Geralmente jamais o fazemos, poucas pessoas tem acesso a confissão de fé de sua igreja, mas é um documento integrante da sua organização legal, e como que é ela, denominação ou igreja registradas.
Doutrina muitas vezes confundida com "usos e costumes" não tem nada a ver com a permissão para se usar determiandas roupas, barba ou corte de cabelo. Doutrina tem a ver com a escatologia por exemplo. Em tese pastores e membros de uma denominação podem divergir legítimamente na doutrina. Alguns são pré-milenistas e outros pós milenistas, embora estas questões sejam na prática absolutamente irrelevantes no dia a dia para a maioria dos membros de igrejas que não se dão a esses embates doutrinários.
Fazem parte da doutrina ainda, questões como predestinação, livre-arbítreo, sacramentos ( batismo e casamento ) e ordenanças ( ceia do Senhor , Lava-pés, etc.) . Outras como dons e fenômenos carismáticos, incluindo profecias e curas divinas fazem parte da categoria de opiniões embora em algumas igrejas pentecostais assumam posição de doutrina. Nos Estados Unidos há uma denominação, talvez mais de uma sem dogmas e nem doutrinas que além de ser perigoso, um espaço sem limites, na prática transforma a OPINIÃO em um DOGMA praticamente.
A Trindade é uma doutrina indiretamente exposta em toda a Bíblia, sem contudo haver, nas Escrituras tal denominação. Da mesma forma o livre-arbítreo, cuja expressão também não aparece em nenhum lugar das Escrituras. Dessa forma os conceitos de Trindade e livre-arbítreo constituem em um exemplo de resultado de reflexão teológica sob todo co conjunto da obra, de tudo o que a Bíblia traz através de seus relatos factuais. Dessa forma também os modelos teológicos não são a realidade mas correspondem a realidade e nos ajudam, pelo menos em parte a compreendê-las. Chamamos isso de tarefa construtiva da teologia.
Ao debaterem sobre qualquer assunto dentro da esfera e experiência cristãs, deve-se antes, localizar a categoria que essas diferenças se referem para não incorrer-se no risco de tornar relevante o que pertence a uma categoria mais abaixo, embora necessária na prática.
Existiram dois momentos de progresso teológico absolutamente relevantes na história do cristianismo: durante as décadas de consolidação da igreja primitiva e mil e quatrocentos anos depois, na reforma protestante. A teologia progride, mas muito lentamente, com idas e vindas, com afirmação de erros já cometidos e com a afirmação de supostas novidades nem tão novas. Destaca-se nesse contexto a questão do sofrimento de Deus, no uma doutrina mas um dogma. Durante dois mil anos cristãos acharam impossível e blasfemo, o fato da possibilidade de Deus sofrer ( teologicamente ). Hoje teologicamente há dentro do cristianismo, uma parada para exame, no fato concreto de Deus, realmente sofrer com o sofrimento do homem, seja por desastres naturais, guerras, doenças e outras calamidades.
Cristãos reformados, embora herdeiros da reforma sejamos todos nós os evangélicos, diferindo no campo da doutrina, na maioria das vezes e da opinião, até o grande reformador Martinho Lutero e João Calvino, não admitiam a possibilidade de Deus sofrer ( não amar ), de sentir a nossa dor, medo e todo tipo de sofrimento. Essa é uma posição mais ou menos recente pós segunda guerra. Católicos e protestantes constituíram sempre um grande grupo de cristãos resignados que até viam com bons olhos o sofrimento. Hoje como resultado de que Deus se importa com o seu bem estar ou mal estar, temos, ora defendida apaixonadamente, ora combatida ferozmente, a chamada teologia da prosperidade, que mais apropriadamente deveria ser categorizada como "doutrina da prosperidade" e não teologia. Se Deus sofre com a sua fome, desemprego, condição de vida não condizente com a desejável para um ser humano, esse mesmo Deus pode agir em favor desse ser humano humilhado e considerado como nada nesse mundo. Seria o caso e o exemplo de uma opinião, uma visão particular da realidade mas que não a muda de fato, muda a nossa forma de vê-la. Note que é um posicionamento mais profundo do que realmente aparece e cuja contextualização aparentemente estranha não o é. Mas esse é um outro assunto.
A minha contribuição resumida , a qual espero seja útil , refere-se apenas a categorização, lembrando que a unanimidade de compreensão, a unanimidade teológica é improvável no contexto atual e nem seria de fato útil, pois qual delas prevaleceriam, em termos de Teologia, de Doutrina ou de simples Opinião?. De fato durante os últimos quinhentos anos a possibilidade de multiplicarem-se as opiniões sobre várias questões do próprio cristianismo se multiplicaram infinitas vezes. Na prática é possivel que algum crente mais inclinado a essas questões se ocupe sobremaneira com as mesmas, mas o simples interesse por elas, e até a paixão por alguma delas, não substituem a única coisa que consiste a vida cristã: a comunhão com Deus.
Afinal posso falar do presidente Lula ou o presidente Obama, e nunca tê-lo visto na vida e tão pouco ele a mim, e eles nem saibam que eu exista. Deus é a mesma coisa. Pode-se falar sobre Ele, discutir questões concernentes a Ele, sem conhecê-lo, e pior sem ser por Ele conhecido. Tal comunhão não se realiza sem o recurso da oração pessoal, sem a leitura da Sua Palavra, no sentido e ouví-Lo de fato a falar conosco. Não nos esqueçamos disso.
Afinal posso falar do presidente Lula ou o presidente Obama, e nunca tê-lo visto na vida e tão pouco ele a mim, e eles nem saibam que eu exista. Deus é a mesma coisa. Pode-se falar sobre Ele, discutir questões concernentes a Ele, sem conhecê-lo, e pior sem ser por Ele conhecido. Tal comunhão não se realiza sem o recurso da oração pessoal, sem a leitura da Sua Palavra, no sentido e ouví-Lo de fato a falar conosco. Não nos esqueçamos disso.
Por Helvécio S. Pereira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O QUE ACHOU DESSE ASSUNTO?