A minha posição é sempre a de que a Bíblia Sagrada, um exemplar dela, traduzida em uma língua passível de ser entendida com palavras que ao mesmo tempo que reflitam em boa medida o sentido original sejam de compreensão atual, dá a qualquer leitor mediano a compreensão do que Deus quer que saibamos sobre Ele e sobre nós. Ficam de fora a tutoria de classes privilegiadas de teólogos de plantão, religiosos, clérigos como uma casta que detenha um conhecimento entre qualquer um o se Deus, etc.
Aliás, o Senhor Jesus no livro escrito pelo apóstolo João, nos diz odiar os nicolaitas, ao que se sabe, eram os que ensinavam e históricamente, no cristianismo, deu origem a classe social dos clérigos, classe acima dos homens e abaixo de Deus. Pois bem, o sacerdócio universal consiste exatamente na possibilidade real de comunicação de cada indivíduo com o seu criador, sem mediação institucional ou de outra ordem.
Disse isso tudo, porque percebo em muitos irmãos a tendência em procurarem uma explicação pronta fora da Bíblia e depois irem aos textos bíblicos ( geralmente já relacionados e ordenados por quem sustenta uma doutrina ) e confirmar o ensino. O meu procedimento é o inverso: vou a Bíblia, leio as suas narrativas e tento perceber o que Deus gostaria de nos dizer a todos. Nem sempre gosto do que parece que Deus esteja dizendo, mas enfim e se for aquilo mesmo? Não me preocupo com nomeclaturas e termos que identifiquem aquela idéia, se for bíblica e verdadeira, deve ser repetida outras vezes em toda a Escritura, a isso se chama "unidade doutrinária", o que confirmaria a referida compreensão.
Em alguns debates é me dito por irmãos que aceito o tal do "livre-arbítrio", uma idéia extra-bíblica, filosófica e com boa aceitação ateísta. A Bíblia, as escrituras não trazem essa expressão em todos os seus textos e relatos. Também não aparece na Bíblia o termo "trindade" e esses mesmos irmãos concordam com o que a doutrina da trindade ensina-nos e a comprovam nas Escrituras. Não seriam dois pesos e duas medidas?
Pois bem, o mesmo método usado para intuir a idéia , o ensino, a doutrina da trindade, vale para o livre-arbítrio, independente se usaremos a mesma terminologia usada para definir a idéia de uso filosófico. O começo de tudo é a leitura da Bíblia desde o seu início, tomando a criação do homem, da mulher, a queda, a expulsão do jardim, a sua multiplicação sobre a terra, etc. Não há ainda nessa análise a idéia do tal "livre-arbítrio" mas um atenção aos atos de Deus, as atitudes humanas e o que Deus diz, se manifesta, quando se manifesta em relação as ações desses mesmos seres humanos.
Deus criou o mundo e por último faz o homem. Um pouco mais além faz a mulher, como sua ajudadora, como complemento ao homem, "pois não é bom que ele ( o homem ) fique só." Deus lhes fala e lhes diz que de toda a erva e fruto poderiam comer livremente, mas das duas árvores mais importantes do jardim, uma poderia dela comerem, a da vida ( coisa que nem lhes dera a devida atenção ) e outra jamais poderiam comê-la, pois no dia em que dela comessem morreriam.
Deus era a fonte de informação para os nossos pais e informação que os formava e educava a cada dia. Não eram programados como robôs a fazer nada. Até sobre a reprodução ( coisa da qual nos enrolamos até hoje para termos todas as informações na medida certa e na direção certa ) eles tinham, deveriam crescer e multiplicar-se encher a terra. Deus mostrou-lhes o que eles deveriam fazer no grande projeto dEle Deus, sendo seus cooperadores. Adão e eva não sabiam tudo, mas a cada visita de Deus, a cada dia, mais conhecimento e avanço teriam e uma consciência maior do seu papel em um mundo criado aparentemente, mas com toda a certeza para eles.
Claro, que a história deles e a nossa, poderiam ser bem diferentes. Poderia aquele primeiro casal cumprir todo o designo divino mas não o fez. Por que Adão e Eva não cumpriram o designo de Deus para si e para toda a sua espécie, o gênero humano? Eram fracos? Tinha uma tendência inata ao mal ainda que imperceptível? Eram fruto de uma criação problemática, experimental? Não tinha uma trava de segurança?
Não nada disso. Infalível, inerrante, oiniciente, Deus não quis criar seres que fossem marionetes, fantoches e numa imaginação moderna hoje quase possível, meros robôs. Deus os fez com capacidade de julgamento, de escolha, de intuir entre uma idéia e outra, de acertar e errar. Não importa o nome e a conotação que se dê a esse aspecto da natureza humana original. A Bíblia mostra que Adão e Eva foram assim feitos, criados. Dê-se-lhes o nome que quiser dar a essa faculdade do primeiro casal.
Desse modo, Deus os deixou intencionalmente expostos a uma "segunda visão" das coisas. Deus não os tentou, pois as mesmas Escrituras dizem que "Deus a ninguém tenta", mas o futuro da raça humana dependia da superação de uma importante questão: Deus é verdadeiro ou não é verdadeiro? Digno de confiança, com propósitos claros e confiáveis, ou escusos e imprecisos? O lugar que Deus diz destinado a mim em Seu plano é como diz ou estou sendo enganado?
Satanás, sobre o qual voltaremos a falar dele em outra oportunidade com mais detalhes, sugeriu todas as segundas possibilidades, as quais enumerei acima dizendo-lhes: " Deus não quer que vocês sejam iguais a Ele, conhecedores do bem e do mal, por isso mentiu dizendo-lhes que morrereis...certamente não morrereis." Em uma única tacada, Satanás manipulou o que Deus havia dito, tornando-O ( Deus ) mentiroso e dando a falsa idéia de que uma situação de risco sem volta e responsabilidade irrestrita seria meritosa em relação ao ser humano. Provavelmente nas entrelinhas Satanás, tenha sugerido ao casal: "por que esperar Deus dar tudo, ensinar tudo a vocês, aos poucos? sabendo como Ele vocês desenvolverão toda a ciência, construirão cidades, reinos, viajarão pelas estrelas por sua própria conta...não seria fascinante?" Eva e também Adão escolheram ambiciosamente a segunda opção. Quiseram ser igual a Deus e desprezaram o aviso de Deus de que certamente morreriam.
O resultado foi que conhecendo o bem e o mal, como Deus conhece, como os anjos conhecem, ganhamos o enorme peso da escolha e da responsabilidade dessa escolha das menores as maiores coisas, das menores as maiores questões, mas com um agravante: a mercê de Satanás e seus demônios soltos na terra e com tudo o que ele pode oferecer baseado no seu reino e no seu intuito de roubar, matar e destruir, por toda a história subsequente.
Adão e Eva eram mais livres que nós, antes da queda. Perfeitos, sem traumas, tendo comunhão com Deus e sabendo quem Ele era, sua existência, etc. Eles após a queda e nós, com uma tendência a pecar em cada situação, uma inclinação que já nos deixa em larga desvantagem ainda mais soltos no meio de uma geração que séculos após séculos anda longe dos propósitos de Deus perdida entre mil coisas engendradas por Satanás para corromper nações inteiras em torno de vícios, idolatria, feitiçaria, praticas descaradamente urdidas contra Deus.
Mas mesmo lá atrás, no princípio da história, Deus fala a Caim: " se procederes bem não serás aceito? faze portanto o bem para que sejas aceito". E hoje Jesus nos diz : "Crede em mim". em ambas as situações plenamente bíblicas somos instados a termos a atitude, a ação correta. Não somos programados a elas. Temos que lutar contra a tendência natural, contra o pecado, contra uma força espúria que, essa sim parece nos dizer o que fazer, e exatamente, racionalmente, com um esforço da mente, com um propósito posto por nós mesmos no coração, fazermos o que é certo, para sermos aceitos, crermos nEle , no Senhor Jesus Cristo.
Talvez seja livre-arbítrio, talvez tenha um nome melhor, mas é real e a nossa mais real possibilidade. Não espere ser conduzido sem esforço e sem custo pessoal a Deus. Faça a escolha certa, a única que cabe a nós fazermos.
Por Helvécio S. Pereira
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