Há um confronto tácito entre duas posições dentro do cristianismo. Embora um alinhamento a um dos lados ou ao outro não tenha nenhuma interferência na salvação do crente, do cristão evangélico ( bem que para ser salvo o homem, qualquer um, tem que apenas exercitar a fé no único salvador: Jesus Cristo e nada mais, algo inarredável- Sem Cristo, sem salvação! ) Os dois lados são os seguinte: é o homem livre ou não livre nos seus atos?
Em linhas gerais o raciocínio de ambos os crentes que se posicionam em um ou outro lado é o seguinte, em linhas gerais e simplificadamente para ma comparação adequada:
O homem não é livre / O homem é livre
Não é livre pois isso implicaria em diminuição ou perda da soberania de Deus.
É livre pois o homem faz o que quer.
Observações necessárias:
Os primeiros ( os que apreedem que o homem não seja livre, de modo algum ), vêem a soberania de Deus como um grande bolo que não pode ser repartido. Se se tirar um pedaço para alguém, independente do tamanho, da proporção dessa parte, Deus perde um pedaço, uma porção de Sua soberania.
Os outros crêem que o homem faz o que bem entende, o que queira, o que lhe der na telha. Para esses Deus pune, ou não está nem aí, ou apenas observa, registra e recompensa, ou pune esses homens ( no presente ou no futuro ). É um Deus ocupado matando baratas, matando moscas todo o tempo, ou indiferente, distante, fazendo as Suas próprias coisas, em outro lugar.
Os primeiros se baseiam em uma idéia lógica: Deus é o maior, é tudo em todas as coisas, conhece tudo, conhece todas as coisas, e como tal como poderia de modo lógico ser contrariado, ou deixar-se ser contrariado?
Os outros pensam: Basta olhar o mundo, os crimes, as atitudes, muitas tão terríveis que se Deus se importasse ( não que não pudesse, ou não possa ) deteria muitas dessas ações, desses atos, pelo menos os mais terríveis. Se não o faz, então o homem é livre para fazer o bem e o mal, depende do que lhe vem a cabeça em determinada altura da vida.
Os primeiros se baseiam em uma idéia lógica, mas apenas uma idéia. Os outros se baseiam na lógica pragmática, do que vemos todos os dias, do que sentimos em nós mesmos, na nossa experiência pessoal. Quantas coisas fazemos livremente na vida? Escolha de um time para torcer, nome de um filho, entre duas garotas ( falando de nós homens), entre o bife bovino e o frango, etc. É inegável que fazemos escolhas no mundo real, fato inegável para os primeiros e para os segundos nessa posição de pensamentos tão diferentes.
Adianto-lhes que na Bíblia não se encontra fundamentada nem a primeira e nem a segunda posição, o que falaremos mais adiante.
O homem não é livre / O homem é parcialmente livre
O homem não é livre pois tem a influência do pecado sobre si, algo explícito na Bíblia ( estamos falando de conceitos e posições cristãs ). O homem é pecador e portanto incapaz de fazer o bem, qualquer bem, em qualquer tempo. O homem só produz o mal, esse mal é inerente e intrícico á sua natureza.
O homem é parcialmente livre pois embora sob a influência do pecado, que funciona como uma tendência dominante, o homem pode fazer o bem, desde que se esforce para isso.
O homem não é livre pois Deus é que produz as ações em todas as suas criaturas. O homem, os anjos e qualquer ser vivo só faz o que Deus quer que seja feito e não há outra possibilidade ou saída.
O homem é parcialmente livre ( definiremos melhor e definitivamente esse "parcialmente" a seguir ) pois sob a influência do pecado lhe dá uma tendência a realizar atos nocivos, pecaminosos, o homem age em última instância por si mesmo, após uma escolha rápida ou planejada, mas cônscio da sua escolha. Quando o homem peca sabe que pecou. Quando tem um ato nobre sabe o que lhe custou algo, um esforço, que lhe possibilitou fazer exatamente o oposto que naturalmente faria.
O homem não é livre pois nenhuma das criaturas de Deus são livres, Ele é quem as movimenta e as ações delas já estão todas previamente determinadas, toda a história está escrita e pronta.
O homem é livre pois o futuro é resultado de um presente que não está determinado, em que todas as coisas são possíveis. O futuro ainda não existe.
O homem não é livre, pois senão faríamos o que desejássemos, Deus seria um fraco, um impotente e portanto não seria um Deus.
O homem é livre dentro de limites predeterminados pela soberania divina. Deus lhe deu uma liberdade vigiada.
O homem não é livre pois toda a história humana tem um objetivo, toda a criação é razoável, tem um princípio e um objetivo e Deus não permitiria que o universo e a história humana fossem um caos, que não se chegasse a lugar nenhum. A Bíblia tem um Gênesis e um Apocalípse. A história começou e terá fatalmente, um final, como nEla, a Palavra de Deus a registra.
O homem, os anjos, são livres, entretanto sem ferir os propósitos maiores de Deus. Deus acompanha a história dada partida por Ele mesmo, interage com Suas criaturas e elas são impossibilitadas de destruirem os Seus planos que terão cabalmente um final segundo a Sua soberania, mas essa liberdade dada a todos os seres vivos, animais, anjos e homens é baseada em limites legais segundo a Sua eterna e perfeita justiça. E é com base nessa justiça que Deus responsabiliza os atos de cada um e legítimamente os pune e os recompensa.
Mas afinal, qual é a posição das Escrituras, se olhamos somente para ela, sem os pressupostos e as contaminações teológicas amarradas à histórias denominacionais, contaminações institucionais, filosóficas e de outras implicações?
A Bíblia não traz respostas só porque achamos que temos perguntas. Deus só revelou nas sua Palavra o que nos convinha saber, um conhecimento que pudesse ser traduzido na prática, em vida e em salvação. O que não contribui para esse contexto não está lá nas Escrituras, ainda que legitimamente eu ache que tenha direito a uma resposta. Mas se a questão é necessária e o questionamento legitimo a resposta certamente está lá. Basta lê-la, não com a predisposição de colecionar versículos favoráveis a uma idéia intuida em algum momento, mas de apreender oq ue Ele, como revelação de Deus, nos tem a dizer.
Para tal, que tal lê-la do Gênesis ao Apocalípse, quantas vezes forem necessárias. Leia-a, brigue legítimamente com ela se for o caso, mas leia-a. Quantos cristãos lêem ávidamente ( e não há nada de errado nisso ) livros cristãos sobre algum assunto relacionado a própria Bíblia, com centenas e centenas de páginas. Leia a Bíblia com o mesmo desejo, sede e avidez.
O primeiro relato em que Deus se relaciona com o homem está em Gênsis. Refiro-me a um desses que trata da fala de Deus a Adão e a Eva sobre as regras do jardim do Édem, o que poderiam e o que não poderiam fazer. Se o primeiro casal, nossos pais não pudessem escolher e tivessem suas ações instintivas, programadas, fossem robôs, nenhum aviso ou instruções lhes era necessárias, ou ainda mais lógicamente verdadeiras. Mas foram instruídos, receberam ordens para se multiplicarem e encherem a terra e sujeitá-la. O único limite seria não comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal com a antecipação do resultado desse simples ato: a morte. Alguns, pouco apropriadamente, asseveram: mas não havia morrido nenhum ser humano, como poderiam eles ter a idéia, a experiência do que seria uma morte?
Bem antes de responder a essa fraca objeção que redunda em um a posição frente a não liberdade do homem ( que pode ter tecnicamente vários nomes ) gostaria de lembrar que nós também não sabemos o que é o inferno e nem de longe supomos, ainda que com esforço de raciocínio, como será a perdição eterna em toda a sua realidade. Mas somos instados a fugir dela, a nos salvarmos através da pessoa Jesus Cristo. Respondendo do ponto de vista físico, será que não viram a morte de um inseto, uma folha, a queda de uma flor, a morte de um animal, nada? De fato não sabemos quantos anos viveram no Édem antes da queda, mas é apenas um detalhe fraco para ser usado contra ou a favor da liberdade ou não liberdade do homem, que é o argumento da inexperiência.
Após o pecado, temos o terrível evento do assassinato de Abel por seu irmão Caim. A origem foi o ciúme de Caim pela aceitação por parte de Deus do sacrifício de Abel. Deus mesmo se dirige a Caim e lhe pergunta o porquê do seu sembrante caido e finalmente lhe assegura que se fizer o que é certo será aceito. Se Caim não pudesse ter outra atitude, não fariam nenhum sentido a admoestação divina. Antes, após a queda, Deus se dirige ao homem e a mulher, depois a Adão e por último a serpente ( Satanás). Todos são advertidos e responsabilizado com sanções reais sobre os seus atos. Se não fossem livres que sentido haveria nessas sanções?
Temos vários episódios reveladores, listá-los todos e em ordem , não é prático nessa postagem. Abraão intercedendo por Sodoma e Gomorra. A iniciativa partiu de Abraão, fazendo uma observação a Deus, da da a liberdade e a intimidade da comunhão como Seu Deus. O foco das observações de Abraão não foram a justiça de Deus como fora a de Satanás no Édem, mas a extensão da Sua misericórdia. Abraão sabia que Deus era perfeitamente justo mas misericordioso e justamente pensando nos seres humanos vivendo nas duas cidades e sabendo que haveria a possibilidade de haver mais pessoas como Ló seu sobrinho, justas e tementes a Deus, Deus favorece misericordiosamente todos os demais, o que Ele, Deus faria. Se Abraão não fosse livre para orar, para pedir, apara argumentar com Deus, que lógica haveria no registro desse fato?
Há muito mais relatos, fatos reais registrados na Escritura, que se forem analisados com objetividade, sem pressupostos e sem terminologia "teologesca", a real e reveladora posição bíblicas saltarão a vista e a mente. O homem é livre, mas não totalmente. Como as demais criaturas de Deus, ele tem o seu espaço e um leque de possibilidades previamemente definidos.
Não é o homem um robô, sob a ótica moderna e nem tão pouco uma marionete. Isso não implica na redução da condição de Soberania de Deus, ao contrário, Ele Deus se mostra mais soberano ( se isso fosse possível ) quando percebemos a Sua liberdade de criar situações, mudar coisas, fazê-las novamente, exercer misericórdia e justiça, intervir e levar a cabo todos os Seus planos. É possível claramente perceber-se a Sua misericórdia e a Sua justiça, quando ficam inquestionavelmente demonstradas a culpa e responsabilidade de Suas criaturas. O tema e o assunto são apaixonantes e abordá-los sem segundas intenções para compreender finalmente o que a Bíblia quer que saibamos e creiamos é extremamente necessário.
Não é o homem um robô, sob a ótica moderna e nem tão pouco uma marionete. Isso não implica na redução da condição de Soberania de Deus, ao contrário, Ele Deus se mostra mais soberano ( se isso fosse possível ) quando percebemos a Sua liberdade de criar situações, mudar coisas, fazê-las novamente, exercer misericórdia e justiça, intervir e levar a cabo todos os Seus planos. É possível claramente perceber-se a Sua misericórdia e a Sua justiça, quando ficam inquestionavelmente demonstradas a culpa e responsabilidade de Suas criaturas. O tema e o assunto são apaixonantes e abordá-los sem segundas intenções para compreender finalmente o que a Bíblia quer que saibamos e creiamos é extremamente necessário.
Finalmente um texto impressionante das Escrituras dizem claramente no livro de Ageu: "Se subires as estrelas e lá te remontares como águia, de lá te tirarei, diz o Senhor". Temos como seres humanos muitas possibilidades, o conhecimento do bem e do mal, além do consequênte mal advindo da queda, da desobediência, se tornou uma maldição, pelo leque de possibilidades e pela responsabilidade da escolha, acrescida pela tendência pecaminosa herdada de nossos antepassados.
Por Helvécio S. Pereira
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