Já a algum tempo um querido irmão ( ele sabe quem é ) perguntou-me em um telefonema se Deus amava todas as pessoas. Respondi de pronto que não, que Deus não amava todas as pessoas da mesma forma. A minha resposta não era pautada em nenhuma teologia particular. De fato não pensei, no momento da resposta, em doutrina ensinada e defendida por um grupo de igrejas ou de teólogos, mas da minha compreensão pessoal a partir da leitura também pessoal das Escrituras.
Eu defendo que a compreensão da Bíblia tem de ser acima de tudo pessoal, no mesmo e autêntico espírito da Reforma, dos principais reformadores, de Martin Lutero, de Calvino originalmente, ou seja : a livre interpretação da Bíblia, das Escrituras. É natural entretanto que o ensino cristão passe muitas vezes por uma doutrina defendida por uma grande teólogo ou pregador, mas essa não deve ser a posição primária de cada crente. A livre interpretação da Bíblia leva ao risco possível do surgimento de teologias pessoais e portanto de heresias cuja base seja essa mesma teologia, mas por outro lado oferece a possibilidade da genuína conversão e experiência pessoal com Deus. A adesão por simpatia, por estudo doutrinário ex-escritura ou a ela precedido, pelo aprendizado de uma teologia particular, não impede a conversão, mas possibilita as vezes, uma religiosidade inconversa. É assim no catolicismo, na igreja ortodoxa grega, só para citar, etc.
Assim posto a fé doutrinária pode ser resultado de uma escolha simpática de uma posição ou doutrina, tal qual a escolha de um livro sacado em uma prateleira. Qualquer um pode deixar de ser católico, deixar de ser espírita, deixar de ser evangélico de ser muçulmano, deixar de ser católico e se tornar um espírita ao abraçar simplesmente "in totun" uma doutrina fechada de um ou de outro, e passar a confessá-la e expressá-la enfim a outros. A conversão verdadeira ao evangelho bíblico não é o resultado de uma simpatia ou um assentimento a uma doutrina específica, ainda que legítima, defendida por um determinado líder religioso, ainda que cristão e evangélico.
A Bíblia nos revela e ensina que Deus ama, que nos ama, pois amou o mundo de tal maneira que deu Jesus Cristo, seu Filho, para que TODO aquele que nEle crer tenha a vida eterna" a partir do conhecido versículo do evangelho de João 3:16. Uma coisa é Deus, segundo as Escrituras, amar a humanidade, todos os homens e mulheres de todos os tempos, e outra coisa gostar, se agradar de uns e não de outros, algo claríssimamente também revelado nas mesmas Escrituras. Curiosamente o conceito judáico-cristão é único na cosmovisão religiosa do mundo. Todo cristão diz às outras pessoas que Deus as ama. Parece algo sem novidade, que não consiste em nenhuma diferença importante, mas é uma marca primordial do e inconteste do cristianismo.
No Islã, Deus não ama o homem, aliás Deus nem ao menos se relaciona com o ser humano de forma pessoal, e jamais o homem pode, por hipótese, ser chamado de "filho de Deus". A relação de Alá com o homem é de um dono com seu escravo apenas, cuja distância entre ambos é abismal. Quando um católico, espírita, ou outra pessoa em nossa cultura repete que Deus, o criador, ama cada um de nós, apenas repete algo original do cristianismo e de nenhuma outra religião ou ensinamento. Entretanto do livro de Gênesis ao Apocalipse, Deus se não revela ( na verdade o faz indiretamente ),de fato não esconde o prazer que tem mais por umas do que por outras pessoas, sejam homens ou mulheres, ricos ou pobres, poderosos ou escravos, famosos ou anônimos, do seu povo ou ainda estrangeiros. Nesse contexto é que Deus não faz acepção de pessoas, conceito só aparente no Novo Testamento.
Em bom português, Deus ama a todos, mas não gosta de todos. Deus observa os homens, suas ações e pensamentos. Deus profere bençãos e maldições, aceita, recebe e também rejeita, e isso do primeiro ao último livro das Escrituras. Aliás é mais longânimo com uns e decididamente mais rigoroso e aprentemente inflexível com outros, sem contudo ser injusto ( pois é Ele, o Senhor a perfeita justiça, por seu pleno conhecimento e capacidade de julgamento ).
O espaço dessa postagem é claramente insuficiente para mostrar caso a caso, cada exemplo factual dessa relação de amor entre o criador e o ser humano, mas se for paciente e atento, pode comprová-lo em cada história, na vida e nos acontecimentos que envolvem cada personagem bíblico. Por ocasião da queda, Deus demonstra uma ação redentora ( não de salvação ) de toda a humanidade e da própria natureza submetidos a uma condição diversa do equilíbrio original do Édem. Em Babel, Deus espalha a humanidade pela terra mas não a destrói. Anteriormente, por ocasião do Dilúvio, Deus mata todos os homens menos a família de Noé. Surge a partir desses uma nova humanidade, que cresce mais uma vez numericamente, provando que de uma maneira que não compreendemos todas as implicações, Deus deseja essa humanidade alcance os objetivos já definidos pela Sua soberania, que só se concretizará a partir de um amor direcionado a todos os homens e mulheres que venham a nascer no mundo.
A eleição de um povo a partir da promessa feita a Abraão é da formação de uma nação exemplar e cujo modelo de organização teocrática seria uma luz para os demais homens e nações. Não se tratou de um privilégio mas um meio, um canal de benção para a todos os homens em todos os lugares. No Velho Testamento, o princípio era o de vir a luz, vir a Israel e desse modo conhecer a Deus. Na Nova Aliança a luz deve ser levada às pessoas através da Igreja. Portanto duas missṍes distintas no tempo e no espaço. Tanto na Antiga Aliança como na Nova Aliança o alvo era abençoar toda a humanidade. A doutrina da eleição para salvação é antibíblica na sua essência, pelo menos na forma como é colocada. Embora expressa de forma didática pareça altamente coerente, mas só se é convenientemente separada de toda a revelação Escriturística e calcada em passagens mal interpretadas tanto no Velho como no Novo Testamento, apesar de mais aparentemente sustentada por declarações dos apóstolos em várias de suas epístolas. Voltaremos, entretanto, a essas minúcias em outra ocasião.
Deus ama a todos os homens e não apenas a alguns. A salvação em Cristo está disponível a todos e não a alguns "eleitos", isso é uma grave e infantil, apressada distorção. Deus entretanto se agrada mais de uns do que de outros, a uns suporta, a outros tem deleite e prazer e ainda a outros odeia e rejeita. Os critérios divinos serão objeto de nossa reflexão também em outra oportunidade. Desse modo uma vez recebido o amor de Deus o homem deve procurar agradá-lo sempre, para não ser rejeitado e resistido e até odiado e abandonado. Um bom tipo da graça de Deus e da temporal rejeição é a história do rei Saul. Todos conhecemos a sua história e vale a pena revê-la nas Escrituras com temor.
A doutrina da eleição defendida por setores da igreja protestante é apenas conveniente por dois motivos:
a) Resolve-se a questão da rejeição. Como pode uma salvação tão boa ser rejeitada francamente pelo homem , sendo que em bom número de casos, não se tratam de homens e mulheres incultos ou pobres, e por várias circunstãncias limitados a compreensão da mensagem salvívica estritamente bíblica. Por que então e como não aceitam tão grande salvação, abandonando suas antigas crenças e arrependendo-se?
b) Estabelece uma nova fidelidade com base na impossibilidade da rejeição por parte de Deus sob qualquer condição. Baseada em uma elitização do grupo de crentes através de uma predestinação e do determinismo estendido a todas as coisas e justificado sempre em todos os discursos e a todos os acontecimentos. Por extensão estes são apenas elementos de um roteiro pré-determinado antes da fundação do mundo. O crente uma vez salvo, salvo para sempre. Não o que faça para cair desse estado e um não eleito nãopode fazer nada para ser salvo, nem querer, nem temer, nem escolher ser salvo embora supostamente a salvação lhe seja o tempo todo gratuitamente ofertada pela pregação feita pro pregadores e pelo testemunho dado pelos já salvos. Decididamente não é isso que a Bíblia revela e ensina.
Tal crença, assim expressa, não interfere na salvação do que já crê, apenas na descrição dessa salvação, mas as implicações à pregação e a proclamação do evangelho são absolutamente terríveis e não aparecem na superfície da defesa doutrinária. Segundo esses, Jesus Cristo não morreu por toda a humanidade e defendem essa posição com um autêntico malabarismo racional que colocado de maneira simplista é: se Jesus morresse por todos teríamos uma redenção universal de todos os homens, já que também para esses, a graça, o presente de Deus, a salvação em Cristo é absolutamente e concretamente irresistível. Ninguém poderia dizer "não" a Deus. Então uma coisa leva a outra, todos seriam salvos e não se quer isso.
Por outro lado o modelo teológico defendido por esses apresenta um grave problema: se a salvação é absolutamente pela graça, como eles e nós ambos defendemos, com que base seria a tal eleição ou predestinação? como poderia Deus decidir salvar o filho de alguém e não o pai, a esposa e não o esposo, etc, sendo que em muitas vezes, filhos "salvos" e "eleitos" não tiveram em alguns casos vida mais exemplar do que os pais "não eleitos" e portanto "não salvos", um problema de justiça e de lógica teológica. Um Deus justo, previsível ( Alá é imprevisível ) teria motivos para escolher alguém e não escolher alguém.
Por outro lado o modelo teológico defendido por esses apresenta um grave problema: se a salvação é absolutamente pela graça, como eles e nós ambos defendemos, com que base seria a tal eleição ou predestinação? como poderia Deus decidir salvar o filho de alguém e não o pai, a esposa e não o esposo, etc, sendo que em muitas vezes, filhos "salvos" e "eleitos" não tiveram em alguns casos vida mais exemplar do que os pais "não eleitos" e portanto "não salvos", um problema de justiça e de lógica teológica. Um Deus justo, previsível ( Alá é imprevisível ) teria motivos para escolher alguém e não escolher alguém.
E não é só isso. Quando se adere a uma teologia fechada que pretensamente se confunda com a própria e inequívoca revelação das Escrituras incorre em não poucos erros. De fato não se crê em Jesus e pronto, não se aceita a Jesus ( inclusive muitos não escondem a negação e a desconfiança nesse simples ato ), se aceita uma doutrina fechada em muitos pontos que na prática incorre no erro tácito que é a possibilidade única de aceitação dela mesma.
Por mais que um pregador diga que prega o evangelho às pessoas que não o conhecem, não prega o evangelho, mas a sua doutrina particular e nada mais. Não há a livre interpretação das Escrituras, defesa inconteste dos reformadores, incluídos aí originalmente Lutero e Calvino, entre tantos outros no passado e mais recentemente. Dizem e afirmam que é impossível se aproximar das Escrituras sem pressupostos e que esses pressupostos distorcem a verdadeira e real revelação escriturística. Dessa forma desanimam a livre interpretação e alinhamento das doutrinas reveladas nas próprias páginas da Bíblia Sagrada.
Dúvidas e questionamentos segundo alguns desses, são respondidos por um teólogo do passado preterindo a livre interpretação dos textos bíblicos. Isso não é dito claramente mas na prática é o que acontece sem dúvida. E isso não é particularidade do calvinismo ou de alguns calvinistas, mas de várias instituições religiosas cristãs. A interpretação fechada do líder ou fundador, ou de tal teólogo antecede a opinião que o crente ( se esse não desejar ser excluído e isolado ) possa ter sobre qualquer assunto. Trata-se de um processo de embotamento oposto à clareação, iluminação, desejada por Deus a partir de Sua Santa Palavra.
De resto tudo aquilo que não foi contemplado, por questões absolutas de tempo e cultura, é francamente rejeitado, no todo ou em parte e a tradição e o passado ( não exatamente das Escrituras ) são o padrão doutrinário e interpretativo.
Por ora:
Deus ama a todas as pessoas, onde estejam e como estejam, em que condição;
Jesus morreu por todas as pessoas e não por algum eleito em particular. A eleição e predestinação bíblicas são para o serviços específicos, vide honestamente os fatos registrados nas Escrituras, em toda ela.
Por poder manifestar, para o bem ou pelo mal, as suas obras e ações, o homem pode permanecer resistente a Deus, afeiçoar-se a Deus, deixá-Lo, agradá-Lo e desagradá-Lo, salvar-se e perder-se e isso é claramente demonstrado nas Escrituras. A segurança da salvação é baseada unicamente e estranhamente pelo amor que liga o crente a seu Salvador e Senhor, ao seu Deus e nada mais. Desse modo a fidelidade de Deus em não nos abandonar as nossas próprias forças é a nossa única segurança e não uma decisão ilógica e uinilateral injustificada e irrazoável. Daí o combate ao que chamam de heresia do livre arbítrio, pois se há alguma liberdade toda a arquitetura teológica fatalmente rúi.
Esses pontos, e não únicos, transformam radicalmente a intenção do evangelho apregoado, o que não é de pouca monta. Somos todos crentes e todos salvos? Sim se cremos e de fato cremos em Jesus Cristo como Deus e Filho de Deus, seu nascimento, sua humanidade e divindade, morte e ressureição e sua volta, alem da capacidade única e inequívoca de perdoar os nossos pecados e de nos receber na eternidade. O amamos sobre todas as coisas e em primero lugar em nossas vidas. Ambos nos esforçamos em agradá-Lo e em defendê-Lo em todos os momentos e oportunidades e desejamos profundamente que outros o conheçam urgentemente pois, Ele, Jesus Cristo, é para nós , segundo Suas próprias e divinas palavras, o único caminho, a única verdade e a vida. Ninguém irá ao Pai a não ser por Ele unicamente. Mesmo com as nossas diferenças de compreensão sabemos que naquele dia nada Lhe perguntaremos.
Espero que todos os irmãos calvinistas que por acaso tenham tido a paciência de ler até aqui essas linhas compreendam que é apenas uma reflexão em oposição as diferenças entre a e posição deles e as minhas, mas sobretudo a afirmação máxima do que nos une, ou seja a pessoa que é a razão única de nossa esperança e objeto de nossa gratidão e adoração, o Deus trino e uno cujo amor está expresso em João 3:16.
Por Helvécio S. Pereira
Bom dia, achei interessantíssima a sua colocação. Você nos mostra um lado pessoal de Deus, pouco explorado.
ResponderExcluirApesar de concordar com a maior parte de seu comentário, ouso discordar em alguns aspectos, se me permite.
1. "outros odeia e rejeita" - Deus é amor, então impossível odiar. Assim como água e óleo e água não se misturam, um ser que é excencialmente amor não pode conter ódio.
Também não acho que Deus rejeite ninguém, pois a Bíblia nos diz que Ele deseje que todos se salvem.
No entanto, concordo plenamente que Ele tenha mais afeição por um ou outro ser humano. Esse é o fruto da intimidade e, portanto, consequência de nosso próprio comportamento. Isto porque, quando nos aproximamos de Deus permitimos que Ele faça parte de nossas vidas e, isso, traz amor e aproximação. Enquanto quem não se aproxima de Deus não permite que um sentimento maior de vínculo seja criado. Lembrando sempre que amor e sentimentos são diferentes, como muito bem demonstrado em seu artigo.
Por fim, o entendimento da Bíblia deve ser algo bem mais que pessoal. Isto porque, quando alguém interpreta algo de acordo com sua vivência pessoal o faz com base em suas experiências,moldadas ao longo do tempo. Isso nem sempre retrata a realidade exposta pelo autor. Portanto, ao meu ver, o entendimento da Bíblico deverá ser feito conforme a vontade do Autor, Deus, e não de forma pessoal. A Bíblia deve ser entendida espiritualmente, porquanto se trata de revelação.
No mais, parabenizo pelo blog, seu trabalho é belíssimo e eu sempre acompanho. Deus te abençoe e que você continue nos abençoando com seus artigos tão esclarecedores.
Andréia Cunha
Deus quer falar com você hoje
http://ouvindodeushoje.blogspot.com/