Não vou pessoalmente discorrer entre esses dois conceitos bíblicos importantes e fonte de não tão pouca controvérsias. Farei isso na continuação de uma postagem anterior a qual darei prosseguimento após reflexões e estudos e conversas com vários irmãos, de mesma e de diferentes opiniões.
Dr. Vic Reasoner fala sobre o assunto no texto abaixo:
Rm 8.28-30 traça o propósito realizado de Deus pela ordem em que ele foi cumprido. Cada verbo nesta ordem de salvação está no tempo aoristo, o que refere à ação concluída. Todavia o plano de Deus pode ser anulado em qualquer ponto, exatamente como os seis passos da responsabilidade humana em Rm 10.14-17 ou a seqüência de Rm 5.3-5.
Temos escolha e devemos continuamente nos submeter ao seu propósito. Paulo “fala como quem olha da perspectiva do alvo da corrida da fé,” escreveu Wesley.[1] A salvação final é analisada do início ao fim, conforme vista da perspectiva divina.
Enquanto o plano de salvação é certo, a segurança do crente é condicional. Não pode ser deduzido que todos que começam irão terminar. Antes, aqueles que terminam percorrerão esta seqüência. Wesley explicou que Paulo “não afirma aqui, e nem em qualquer outra parte dos seus escritos, que precisamente o mesmo número de pessoas é chamado, justificado e glorificado. Ele não nega que um crente possa cair e ser cortado entre seu chamado especial e sua glorificação (Rm 11.22). Nem nega que muitos são chamados e nunca são justificados. Ele só afirma que este é o método pelo qual Deus conduz, passo a passo, para o céu.”[2]
Todavia, desde o tempo de Theodore Beza, o genro de Calvino, estes cinco verbos de Rm 8.28-30 foram considerados uma cadeia inquebrável. Deus pré-conheceu, predestinou, chamou, justificou e glorificou. Em 1591, William Perkins escreveu A Golden Chain (Uma Cadeia Dourada), que foi dedicado a Theodore Beza e que continha “a ordem das causas da salvação e da danação.” Este livro traçava a ordem da salvação a partir dos decretos eternos até a consumação final de todas as coisas. A doutrina da dupla predestinação era central. Perkins alegava defender a doutrina calvinista que “ele [Deus] ordenou todos os homens a um estado certo e eterno: isto é, para salvação ou para condenação, para sua própria glória.”
Logo em 1612, Arminius refutou esta cadeia lógica de Perkins. Perkins afirmava que o fracasso do crente em perseverar significava que sua fé era somente temporária e portanto ele não era eleito. Arminius argumentava que sua própria doutrina não era, efetivamente, diferente da de Perkins; que o crente pode realmente “cair daquela mesma graça por meio da qual Deus o recebe para a vida eterna.”[3] De acordo com Perkins e Arminius, se o crente não persevera, essa pessoa prova ser um não-eleito. A diferença é que Perkins ensinava que os crentes perseveram porque foram eleitos. Arminius ensinava que Deus elege os crentes que ele sabe de antemão que irão perseverar. Dessa forma, a cadeia lógica não é determinística.
Colin Williams escreveu que a ênfase de Wesley na doutrina da graça preveniente quebrou “a cadeia de necessidade lógica” que parecia ser a conseqüência inevitável da doutrina do pecado original. Em suas controvérsias sobre a predestinação incondicional, Wesley muito freqüentemente empregava este conceito de graça preliminar, capacitante.
Todavia, apesar de que os calvinistas prosseguem ensinando que Rm 8.28-30 constitui uma cadeia dourada, que não pode ser quebrada, por sua própria definição a cadeia na verdade tem somente um elo.
Em primeiro lugar, eles confundem pré-conhecimento com predestinação. Fredrick Godet explicou que, se o “pré-conhecimento” significasse destinar de antemão, então o pré-conhecimento teria o mesmo significado que “predestinar” no v. 30. Então, a partícula “também” não carregaria a implicação de uma transição de um nível ao próximo.
John Murray tentou salvar a pressuposição calvinista declarando que havia uma distinção entre as duas palavras. Murray disse que, enquanto pré-conhecimento significa escolher, “ele não nos informa o destino para o qual são apontados aqueles que são escolhidos.” De acordo com Murray, predestinado supre esta informação ausente. Todavia, é ilógico defender que Deus escolheria sem algum propósito em mente. Murray não conseguiu evitar a conclusão que ambas as palavras equivalem à mesma coisa, se a definição calvinista for aceita.
Em segundo lugar, James Montgomery Boice declarou que o chamado de Deus é um pacto irrevogável. Em seu comentário sobre Rm 11.29, Boice escreveu que “chamado” é sinônimo de predestinação ou eleição. O terceiro elo na cadeia dourada é o chamado de Deus. Agora é também confundido, de forma que qualquer que seja a palavra usada, se pré-conhecimento, predestinação, eleição ou chamado, o significado continua sendo determinístico.
Em terceiro lugar, John Murray escreveu em Redemption Accomplished and Applied (Redenção Consumada e Aplicada) que faz pouca diferença se o chamado eficaz ou a regeneração vem primeiro. Logicamente, os eleitos foram salvos quando no conselho de Deus ele decretou sua escolha. A fé, então, é a revelação dessa eleição e ela vém após a regeneração. Dessa forma, o terceiro e quarto elos, chamado e justificação, são confundidos. J. Agar Beet levantou uma pergunta válida quando perguntado se a salvação era pela fé ou pelo decreto. Ele escreveu,
Alguns supõem que, embora a salvação seja proclamada a todos que crerem, Deus secretamente resolveu conceder, apenas a uma porção da raça selecionada por Ele mesmo, aquelas influências sem as quais o arrependimento e a fé são impossíveis. Se este for o caso, a salvação é limitada, não pela incredulidade do homem, mas, na verdade, pelo propósito eterno de Deus.
Finalmente, visto que o ensino calvinista sobre a perseverança dos santos afirma que a salvação ou glorificação final, o quinto elo, é incondicionalmente assegurada àqueles que são justificados, o quarto e quinto elos são confundidos.
Assim, para os calvinistas, a cadeia dourada na realidade tem somente um elo. A salvação é por decreto; predestinada aos eleitos. Também não há qualquer cadeia dourada da salvação para os reprovados. Somente um cadeado de ferro.
Tradução: Paulo Cesar Antunes
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